Estratégia – Não é agência! https://naoeagencia.com.br É o que você precisa em SEO e tráfego Sun, 08 Jun 2025 00:27:54 +0000 pt-BR hourly 1 https://naoeagencia.com.br/wp-content/uploads/2025/04/cropped-Captura-de-Tela-2025-04-15-as-11.06.04-e1745534377430-32x32.png Estratégia – Não é agência! https://naoeagencia.com.br 32 32 Entenda a estratégia da Mobiauto que gera mais de 5 milhões de tráfego! https://naoeagencia.com.br/seo/2025/06/02/estrategia-seo-mercado-carros-mobiauto/ Mon, 02 Jun 2025 20:15:47 +0000 https://naoeagencia.com.br/?p=1052 Estar na primeira página não é uma tarefa fácil. Se antes das implementações de IA e novas ferramentas presentes na SERP a competição já era alta, hoje, sem uma estratégia bem estruturada, aparecer entre os primeiros resultados se torna quase impossível. 

Mesmo com players grandes já consolidados e posicionando para termos importantes, com estratégias de SEO, conteúdo e páginas que correspondam aos desejos dos usuários, mesmo você sendo um player menor, você pode ter sucesso. 

Quanto menor você é, mais espaço para crescimento e mais oportunidades para “roubar” tráfego você tem. O que você precisa é entender as oportunidades.

Identificando quem domina o mercado

No mercado de compra e venda de automóveis usados, os grandes players são facilmente reconhecidos: Icarros, OLX, e Webmotors.

SERP da busca “carro usado”. Pesquisa realizada em 29 de maio de 2025.

Ou seja, se você está buscando trocar de carro, você provavelmente já acessou algum desses sites para olhar os anúncios e ver as oportunidades. Segundo o SEMRush, o termo “carro usado” possui uma média de 22K buscas mensais no país, se incluirmos as variações de palavras-chave, o valor ultrapassa os 220K. 

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Ainda conforme os dados do SEMRush, entendemos que a dificuldade para um site se posicionar para o termo no ranking é de 75%. Ou seja, se você começar algo novo e for tentar investir nesse termo, você vai precisar de backlinks, conteúdos bem construídos, uma página bem otimizada e ferramentas que tornem o seu site atraente.

O que é aquilo que pode te diferenciar? 

“I fear not the man who has practiced 10.000 kicks once, but I fear the man who has practiced one kick 10.000 times” — Bruce Lee

Um erro comum ao enfrentar concorrentes com anos de mercado e investimento robusto é tentar replicar sua amplitude de ofertas. Essa abordagem generalista geralmente resulta em sites que abordam superficialmente muitos temas, sem se destacar em nenhum.

O Google e o seu usuário buscam sempre o melhor. A melhor experiência, o melhor conteúdo, as respostas mais adequadas, a demonstração de um conhecimento profundo sobre aquilo que você está se propondo a resolver, vender ou falar sobre. Ou seja, você não vai chegar muito longe sendo superficial em muitos assuntos só para copiar o concorrente que está mais estruturado.

Foque em uma coisa e faça essa coisa bem feito. 

Quem já passou pela experiência de comprar um carro entende o quanto de pesquisa é necessária até o momento da compra. Quando falamos de carros usados, tanto para vender, como para comprar, os e-commerce são bem-vindos, porém existem outros tipos de páginas e conteúdos que também são importantes para o usuário.

O primeiro passo para uma boa estratégia é entender as dores do seu usuário, olhar o mercado e identificar o que você pode fazer bem feito e melhor do que todos os outros. 

A primeira visita é a mais díficil 

Ser encontrado nos mecanismos de pesquisa ou indicado pelas ferramentas de IA é super importante para os players menores. Conquistar visitantes de forma orgânica é o atestado de que o seu conteúdo é relevante e soluciona dores do seu cliente. 

Mas como fazer isso em um mercado já consolidado? 

No mercado de compra e venda de carros usados, a Mobiauto resolveu focar na estratégia de utilizar a Tabela Fipe como uma porta de entrada importante para o site. 

Mesmo com um nível de dificuldade da palavra-chave maior, segundo o SEMRush, de 75%, o volume de 2,2M de buscas mensais e com a intenção focada na consulta, otimizar um conjunto de páginas para serem úteis aos usuários pode ser uma boa ideia. 

Essa estratégia ajudou a Mobiauto a conquistar mais de 5 milhões acessos mensais para as páginas da tabela fipe, mesmo não sendo tão forte quanto as outras quando buscamos por carros online, recebendo cerca de 200 mil acessos mensais no catálogo.

Tráfego orgânico para subpastas de catálogo do Mobiauto, Webmotors, Icarros e OLX na ferramenta SEMRush. Acesso em junho de 2025.
Tráfego orgânico para subpasta /tabela-fipe do Mobiauto na ferramenta SEMRush. Acesso em junho de 2025.

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Com os usuários no site, é bem provável que a navegação interna aconteça e outros serviços e frentes de negócio sejam impactados positivamente. 

Ao invés de investir alto em tráfego visando o catálogo, a Mobiauto criou uma das melhores páginas de tabela fipe do mercado para ganhar posições tendo um foco.

Página da Tabela Fipe para o Audi100 Avant 1995. Acesso em junho de 2025. 

Trazendo as informações sobre o veículo de forma aprofundada, com histórico e ficha técnica, além de notícias e outras possibilidades de caminhos de navegação para o usuário, a página foi construída para ser a melhor possível sobre o tema e isso é refletido no tráfego orgânico em relação aos concorrentes: 

Tráfego orgânico para subpasta /tabela-fipe do Mobiauto, Icarros e Webmotors na ferramenta SEMRush. Acesso em junho de 2025.

A construção da página de forma otimizada, tanto para usuários como para os mecanismos do Google, fez com que a Mobiauto viesse ganhando tração e tráfego para superar o Icarros por volta do mês de setembro de 2024.

Dentro da subpasta de tabela fipe, a Mobiauto conta com cerca de 98.700 páginas indexadas no Google, uma quantidade muito menor que a Webmotors, que possui mais e 6 milhões, e um pouco a mais que o Icarros, que possui 44.500 páginas.

Em relação às palavras-chave, o cenário não é diferente. Temos a Mobiauto na liderança, seguido pelo Icarros e, em terceiro, a Webmotors:

Dados do SEMRush: 

  • Mobiauto: 472K, sendo 34K no top 3 
  • Icarros: 289K, sendo 27K no top 3
  • Webmotors: 155K, sendo 26K no top 3.

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O que realmente chama a atenção são os termos presentes nos recursos da SERP. Já trouxemos aqui como a Folha Dirigida do Qconcursos ultrapassou outros players por conta das notícias principais. Hoje, a presença da Mobiauto nos recursos de SERP é responsável por mais de 50% dos termos em que aparece.

Dados do SEMRush: 

  • Mobiauto: 262K 
  • Icarros: 198K
  • Webmotors: 42K

Aprendendo com a Mobiauto

Sendo um marketplace de venda e compra de veículos, a Mobiauto escolheu trazer o tráfego para o seu site focando em criar uma excelente experiência nas páginas de Tabela Fipe. Suas páginas otimizadas para mecanismos de busca e com conteúdos completos, se mostram eficientes ao que se propõe. 

Mesmo as chamadas “buscas com marca”, igual temos com “tabela fipe icarros” e “tabela fipe webmotors”, o player consegue um volume de tráfego até 4x maior do que a Webmotors, mesmo com 5 milhões de páginas a menos indexadas. 

A otimização do site para os recursos da SERP são um diferencial importante e precisa estar presente nas estratégias de SEO. Aparecer na primeira página continua sendo importante, mas é preciso ir além.  Prova disso são as páginas de pesquisa posicionadas nos primeiros 100 resultados de pesquisa orgânica do Google de cada player: 

Dados do SEMRush: 

  • Mobiauto: 24K 
  • Icarros: 15K
  • Webmotors: 26K

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Fazer SEO há um tempo vem deixando de ser somente a escolha de palavras-chaves e a luta por posições na primeira página da SERP. Para ser relevante, conseguir tráfego e ser diferente é preciso uma boa estratégia e entender bem o comportamento do próprio Google e interesse dos usuários.

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SEO morreu? Empresa fatura $103K com apenas 36 palavras-chave indexadas https://naoeagencia.com.br/estrategia/2025/05/27/seo-morreu-chatbase-analise/ Tue, 27 May 2025 15:05:59 +0000 https://naoeagencia.com.br/?p=968 Texto publicado por Glen Allsopp no site Detailed traz o dado sobre o aumento de tráfego da empresa Chatbase. O site da empresa, chatbase.co, cresceu 68% nos últimos 5 meses, gerando cerca de 68 mil cliques e 7,5 milhões de impressões.

Além disso, as estratégias de SEO da empresa tiveram um impacto importante para garantir um aumento na receita mensal recorrente de $ 103K.

Ao contrário do que a gente possa pensar, a empresa não domina as páginas de resultados de pesquisa com milhares de palavras-chave e páginas. Segundo os dados da ferramenta MOZ, a empresa aparece nas posições de 1 a 3 somente para 36 termos, e para as posições de 4 a 10 ela aparece para 166 palavras-chave. 

Consulta termos indexados Chatbase na plataforma Moz.

Se olharmos os dados da ferramenta SEMrush, os dados são ainda mais impressionantes. Nela, temos que a empresa se posicionou no top 10 com somente 21 termos, sendo 10 no top 3 e 11 da 4ª à 10ª posição. 

Consulta termos indexados Chatbase na plataforma SEMRush.

Quais foram as ações da empresa? 

A Lead de Marketing e Growth da Chatbase, Sandra Djajic, compartilhou em sua conta no X (antigo Twitter) a história sobre como eles tiveram um aumento na receita mensal recorrente, saindo de $ 392 em dezembro para $ 495K em abril. 

Segundo o tweet da Lead da empresa, o aumento foi possível por conta de três canais: SEO, Anúncios e Mídias Sociais. Ainda em seu tweet, a Lead detalha todo o “playbook” de como isso foi possível. 

Sandra Djajic traz os resultados alcançados com a sua estratégia. Ao todo, foram 798K visitas e 14 milhões de eventos traqueados, um aumento de 14% no tráfego desde o começo do ano. A conquista não foi apenas sobre a receita, mas como foi criado um crescimento em todo o funil com awareness, interesse e engajamento. 

No canal de SEO, que a Lead comentou ser o mais complicado, a empresa começou a focar em conteúdos nichados que focaram, na verdadeira intenção de pesquisa dos usuários. Ou seja, saíram de uma mentalidade de produzir muito, para uma ideia de produzir de forma mais eficiente. 

Além disso, fizeram o traqueamento dos termos que os concorrentes posicionaram para terem certeza de que a Chatbase estivesse melhor posicionada. Com essas duas atividades, eles logo viram resultados animadores: 

  • 168K cliques e 7,5 milhões de impressões. 
  • 68% de aumento no tráfego orgânico.

A Chatbase utilizou o canal de mídia paga (Google e Meta ads) como drivers de crescimento para o topo de funil (TOFU), porém precisaram reestruturar tudo. Com a reestruturação, foi possível se posicionar em torno de termos de “AI agents”, testar nas palavras-chave e reconstruir landing pages. 

O canal logo deu bons resultados, entre eles estão: 

  • 339 novas inscrições apenas no mês de janeiro; 
  • Facebook ads performando bem melhor com remarketing e após ajustes no meio do funil (MOFU).

Por fim, a empresa utilizou as redes sociais de forma séria, principalmente focando nos canais do LinkedIn e X (Twitter). As estratégias compartilhadas pela Sandra foram: 

LinkedIn

A página da companhia cresceu de 18K para 21K seguidores utilizando um combo de posts orgânicos somados a anúncios. Os anúncios ajudavam a definir o perfil de cliente ideal (ICP) e o orgânico impulsionava o alcance. 

X (Twitter) 

O perfil do twitter passou de 300 para 1.8K seguidores em 3 meses. A estratégia para o canal foi totalmente orgânico, com posts e atualizações sobre o produto. A Lead destaca que não houve um investimento, apenas storytelling e conteúdo útil publicados de forma consistente. 

O que levar pro meu negócio? 

As principais lições da estratégia de Sandra Djajic e da Chatbase podem ser resumidas em foco cirúrgico na intenção de busca, otimização on-page consistente, monitoramento ativo da concorrência, mensuração rigorosa com ciclos de iteração, integração inteligente com outros canais de marketing e reposicionamento de produto como ponto de partida. 

Com a jornada de pesquisa mapeada e a escolha de palavras-chaves que realmente importavam para o negócio, foi possível construir artigos e landing pages que entregavam exatamente o que os usuários estavam buscando. 

Essa união entre dados, estratégia e o uso de vários canais para que um potencializasse o outro foi a verdade receita do sucesso da empresa. A Chatbase deu uma verdadeira aula de como acertar o alvo como um verdadeiro sniper e não com uma bala de canhão.

chatbase-seo-palavas-chave
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Casas de Apostas: alguns dos maiores portais de notícias dão espaços para Bets terem destaques em SEO; confira! https://naoeagencia.com.br/seo/portais-de-noticia/2025/05/23/casas-de-apostas-quase-30-dos-maiores-veiculos-de-noticias-anunciam-e-usam-taticas-de-seo-para-bets-confira/ Fri, 23 May 2025 17:09:18 +0000 https://naoeagencia.com.br/?p=889 A discussão sobre modelos de monetização de portais de conteúdo nunca esteve tão em evidência. Com a iminente redução de tráfego orgânico causada pela implementação de recursos como o AI Overviews e o AI Mode, que oferecem respostas instantâneas nas buscas e diminuem a necessidade de cliques, muitos veículos jornalísticos se veem diante de um cenário desafiador e incerto.

Nesse contexto, a busca por novas fontes de receita tem levado diversos portais de notícia a apostar — literalmente — em parcerias com casas de apostas esportivas. O movimento, embora compreensível do ponto de vista econômico, tem se dado muitas vezes de maneira pouco convencional, com conteúdos que misturam informação, ranqueamento e recomendação, sem sempre deixar claro ao leitor os interesses comerciais por trás dessas publicações.

Este artigo propõe uma reflexão sobre esse fenômeno, analisando a utilidade e os riscos desse tipo de conteúdo, as questões éticas que ele suscita, e o futuro do jornalismo diante da dupla pressão: a tecnológica, imposta pelas mudanças no ambiente digital, e a econômica, impulsionada pela necessidade de sobrevivência financeira.

Veículos que divulgam bets

Veja quais são os portais de notícias que divulgam casas de apostas, dentre os 30 principais domínios brasileiros.

PortalDivulga Bets
Globo/O GloboNão*
UOL/FolhaNão
Terra Sim
MSNNão
CNN BrasilNão
MetrópolesSim
ESPNNão
IGNão
EstadãoNão
R7Não
EHGomesNão
Tudo GostosoNão
EMSim
Brasil247Sim
Correio BrazilienseSim
LanceSim
Meu TimãoSim
BBC Não
Diario do Centro do MundoNão
CLCC RBSNão
O TempoNão
NSC TotalNão
Poder360Não
Coluna do FlaNão
Verdes MaresNão
ExameNão
ItatiaiaNão
UAISim
O Globo possui uma página ativa para explicar Bets, mas nunca utilizou com fins de monetização.

De todos os 29 maiores portais de notícias, 8 deles se utilizam de Bets como forma de monetização. Dos 5 maiores, apenas o Terra adota a estratégia.

Como são essas páginas?

Via de regra, as páginas são microportais, com conteúdo segmentado para bets.

Estado de Minas

Existente desde 2023, o portal consegue atingir em torno de 300 mil cliques mensais, de acordo com SEMRush:

Tráfego estimado para a parte de bets do Estado de Minas

Autodenominado EM Apostas, diz ser um “grupo de pessoas que compra e avalia os melhores sites“, sem informar quem são, de fato, essas pessoas.

Footer do Estado de Minas Apostas

Terra

O portal Terra também tem um minisite para divulgar as Bets:

Minisite do Terra destinado às bets.
Tráfego Estimado com bets para Terra

O portal Terra já obteve um tráfego estimado superior aos 3 milhões. hoje, é superior a 1 milhão.

Embora o autor das publicações seja “Terra Apostas”, ao final, avisa que o conteúdo é comercial e com links de afiliados. Entretanto, isso “não afeta nossas avaliações e criticas imparciais“.

Aviso nas páginas de apostas do Terra.

Metrópoles

Dica: Você pode fazer análise parecida com o Competitive Research da SEMRush. Teste por 7 dias grátis.

Embora o site do Metrópoles para Bets seja mais simples, ele conta até com códigos exclusivos:

Miniportal do Metrópoles para Bets
Código promocional Metroópoles

As páginas do site conseguem atrair algo próximo aos 700 mil cliques mensais.

Tráfego Estimado – Metrópoles.

Embora o próprio Metrópoles não descreva, como os demais, o que é esse conteúdo de apostas, a página de autor informa que “nossa equipe editorial é composta por especialistas apaixonados por esportes e cassinos, que têm como missão trazer análises detalhadas, dicas valiosas e as últimas notícias do mundo das apostas“:

Página de autor do Metrópoles Apostas

Otimização para mecanismos de busca

A maior parte das páginas desses miniportais são pensadas para serem otimizadas aos mecanismos de busca.

Vejam que ao buscar por “melhores casas de apostas”, aparecem portais de notícias na aba de News:

Para piorar, ao buscar por uma casa de aposta específica, todas as respostas são de portais de notícias:

Abuso de Reputação de Site

Outro aspecto preocupante desse cenário é o fenômeno conhecido como “SEO parasita”, que ocorre quando sites de autoridade — tradicionalmente reconhecidos pela credibilidade jornalística — passam a publicar ou hospedar conteúdos otimizados exclusivamente para ranquear bem nos mecanismos de busca, mas com pouca ou nenhuma conexão editorial com sua linha jornalística original. Em muitos casos, essas páginas são terceirizadas ou mesmo vendidas a terceiros que exploram a reputação da marca para direcionar tráfego a setores altamente lucrativos, como apostas, saúde ou finanças de risco.

O caso recente envolvendo a Forbes é um dos mais emblemáticos: a marca foi acusada de permitir, ou ao menos não impedir, que terceiros utilizassem seu domínio para publicar conteúdos que promoviam casas de apostas e esquemas financeiros duvidosos, sem qualquer supervisão editorial efetiva. Essa prática resultou em uma crise de reputação e levantou dúvidas sobre a real autonomia editorial de veículos tradicionais na era da monetização agressiva via SEO.

No Brasil, o portal IstoÉ também se viu envolvida em uma situação semelhante. O portal passou a hospedar artigos de baixa qualidade, criados por outras empresas com o único objetivo de monetização, sem curadoria jornalística e com foco exclusivo na captação de tráfego através de técnicas de ranqueamento e links afiliados. Esses conteúdos, frequentemente sobre apostas esportivas ou serviços financeiros, utilizavam a autoridade e a confiança associadas à marca IstoÉ para atrair leitores, mesmo sem o respaldo editorial do veículo. Assim como no caso da Forbes, trata-se de um exemplo clássico de SEO parasita, que pode ser enquadrado como abuso de autoridade ao explorar indevidamente a credibilidade construída ao longo de décadas.

Esses casos evidenciam como a busca por monetização rápida pode comprometer seriamente a integridade editorial, afetar a confiança do público e degradar o ecossistema de informação online, que passa a ser contaminado por conteúdos produzidos sem rigor, sem responsabilidade e com interesses ocultos.

Nesses casos específicos, as empresas estão usando portais reconhecidos de notícias para veícular conteúdo e, principalmente, usar a reputação deles.

Casas de Apostas ainda são polêmicas no país

Problema também em mídia paga

Vários portais de notícias também veiculam conteúdo de Bets a partir de Mídia Paga, como informou Aos Fatos, que analisou cerca de 50 mil anúncios nativos publicados em sites de notícias no Brasil. O levantamento identificou que 73,8% desses anúncios continham promessas de ganhos extraordinários, apelos emocionais ou vantagens exclusivas para apostadores.

Especialistas alertam que esse tipo de publicidade pode ativar gatilhos psicológicos, especialmente em pessoas com predisposição ao vício em jogos.

Além disso, a reportagem detectou que 4.551 anúncios (9,1%) promoviam plataformas que posteriormente não solicitaram regularização junto ao Ministério da Fazenda, atuando de forma irregular no mercado.

Principais sites brasileiros que mais veicularam anúncios de apostas

A investigação apontou os veículos que mais publicaram esse tipo de conteúdo:

  • Metrópoles: 17.833 anúncios
  • IG: 15.751 anúncios
  • ClicRBS: 6.312 anúncios
  • Portal R7: 5.571 anúncios

Juntos, esses quatro sites concentram 91% de todos os anúncios de apostas identificados na análise. Vale lembrar que Metrópoles também é um dos principais portais no orgânico.

Questão de utilidade da marca

Atualmente, cerca de 30% dos portais de notícia produzem conteúdos sobre casas de apostas, muitas vezes com foco em ranqueamentos, análises, tutoriais de cadastro e recomendações. Esse tipo de conteúdo cumpre uma função prática evidente: quando os usuários buscam informações sobre a confiabilidade de uma determinada casa de apostas, esses portais surgem como as principais referências, muitas vezes posicionados estrategicamente no topo dos resultados de busca.

Ao apresentar listas como “as melhores casas de apostas” ou “os bônus mais vantajosos”, esses veículos acabam funcionando como validadores, mesmo que o conteúdo tenha sido produzido com interesses comerciais, como programas de afiliados.

O problema surge quando a aparência de um conteúdo jornalístico, que pressupõe imparcialidade e rigor, se confunde com materiais de caráter publicitário, ainda que não explicitamente marcados como tal. O usuário médio, ao confiar na credibilidade tradicional do portal, muitas vezes não percebe que está sendo direcionado a uma escolha não apenas informativa, mas orientada por estratégias de monetização. Assim, os portais deixam de ser apenas mediadores de informação e passam a ser também agentes de influência econômica, moldando decisões que podem envolver riscos financeiros e emocionais para os consumidores.

Além disso, esse tipo de conteúdo é especialmente relevante considerando que o público-alvo é, muitas vezes, composto por apostadores iniciantes, que não possuem conhecimento técnico para avaliar sozinhos aspectos importantes como odds, regulamentação, licenças ou políticas de saque. A utilidade prática do conteúdo, portanto, vem carregada de uma enorme responsabilidade: a de informar com clareza, transparência e ética, evitando a glamurização ou a banalização de uma atividade que envolve, inevitavelmente, risco de perda de dinheiro.

Questão ética

Essa produção maciça de conteúdos sobre apostas esportivas por parte de veículos jornalísticos suscita um debate ético que ainda carece de enfrentamento público. O jornalismo, por definição, deve operar com independência editorial, vigilância crítica e compromisso com o interesse público. Entretanto, quando esses mesmos portais se tornam economicamente dependentes da indústria das apostas — seja por meio de afiliados, publicidade ou conteúdo patrocinado —, cria-se um potencial conflito de interesses que compromete a credibilidade e a função social do jornalismo.

Um exemplo concreto é a cobertura de escândalos e investigações relacionadas ao setor, como a CPI das Apostas, que busca apurar suspeitas de manipulação de resultados, lavagem de dinheiro e outras irregularidades associadas às “bets”. É legítimo questionar: esses veículos que lucram promovendo casas de apostas terão liberdade e disposição para cobrir com profundidade as denúncias que atingem os seus próprios parceiros comerciais? Ou, pior ainda, poderão omitir, suavizar ou relativizar os fatos, temendo prejudicar a relação com anunciantes e comprometer receitas?

Além disso, há uma questão ética ligada à proteção do consumidor e à prevenção de danos sociais. O vício em apostas é um problema de saúde pública reconhecido mundialmente, associado a transtornos como endividamento crônico, depressão e suicídio. Ao produzir conteúdos que estimulam ou naturalizam a prática das apostas, os portais de notícias podem estar, inadvertidamente, contribuindo para a expansão desses problemas, sem oferecer contrapartidas adequadas de conscientização, educação sobre jogo responsável ou orientações sobre prevenção e tratamento.

Por fim, há o desafio da transparência: muitos desses conteúdos não são claramente identificados como publicitários, e o leitor, ao confiar no prestígio do veículo, pode não perceber que está sendo exposto a uma peça de marketing. Esse apagamento das fronteiras entre jornalismo e publicidade mina a confiança pública na imprensa e compromete o papel fundamental que os meios de comunicação devem exercer: o de informar, fiscalizar e proteger a sociedade.

O que será de nós no futuro?

O futuro dos portais de notícia está em um ponto de inflexão crítico. Vale lembrar que um engenheiro do Google até mesmo ventilou a possibilidade do jornalismo se tornar uma empresa sem fins lucrativos.

De um lado, observa-se a crescente diminuição do tráfego orgânico oriundo do Google, motivada por mudanças estruturais como a implementação do AI Overviews e do AI Mode. Essas ferramentas, baseadas em inteligência artificial, passaram a fornecer respostas diretas e completas na própria interface de busca, reduzindo significativamente a necessidade de o usuário clicar em links externos. Esse fenômeno já provoca uma retração expressiva na audiência de portais jornalísticos, afetando diretamente sua principal fonte de receita: a publicidade baseada em volume de acessos.

Inclusive, o próprio Google relatou a necessidade de não se otimizar para cliques, diminuindo a receita dos editores com publicidade.

Paralelamente, muitos desses veículos recorreram, como forma de compensação, a novos modelos de monetização — entre eles, a afiliação com casas de apostas, que oferece uma rentabilidade imediata e robusta. No entanto, essa solução de curto prazo pode comprometer gravemente a sustentabilidade e a missão do jornalismo no longo prazo. A dependência econômica desse setor cria uma relação de risco: quanto maior for a necessidade financeira, maior será a tentação de produzir conteúdo enviesado, priorizando a captação de leads e apostas em detrimento da apuração crítica e da informação isenta.

Nesse cenário, a pergunta que se impõe é: como o jornalismo poderá preservar sua independência editorial e sua função social diante dessas pressões? A resposta passa, necessariamente, por uma revisão profunda dos modelos de negócio, buscando alternativas que não comprometam a integridade do conteúdo. Isso pode incluir o fortalecimento de programas de assinatura e apoio direto do público, a diversificação das fontes de receita, a aposta em conteúdos exclusivos e aprofundados, bem como o investimento em novos formatos e canais — como newsletters, podcasts e plataformas próprias — que escapem do monopólio algorítmico das grandes big techs.

Além disso, será fundamental que os portais recuperem e reforcem seu compromisso ético, estabelecendo políticas claras de transparência sobre conteúdos patrocinados, evitando conflitos de interesse e assumindo, de forma proativa, a responsabilidade social que lhes cabe. O jornalismo, mais do que nunca, precisa se relembrar de sua missão original: ser um serviço público indispensável à democracia, mesmo que isso exija resistir às soluções fáceis e imediatas.

O futuro dos portais de notícia dependerá da sua capacidade de se reinventar sem abrir mão de sua essência. Não basta apenas sobreviver; é preciso manter a credibilidade, a autonomia e o compromisso com o interesse público, sob pena de, ao ceder aos interesses de mercado, perder também a confiança e a relevância social.

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Como a estratégia da gigante chinesa pode ajudar a sua empresa https://naoeagencia.com.br/estrategia/2025/05/21/temu-crescimento-estrategia/ Wed, 21 May 2025 18:03:33 +0000 https://naoeagencia.com.br/?p=862 Recentemente, a Temu, e-commerce chinês, ultrapassou a Amazon em número total de acessos e está ficando mais forte no mercado brasileiro. Esse avanço da Temu não acontece por acaso e faz parte da estratégia da empresa que, desde o meio do ano de 2024, vem demonstrando o interesse no mercado consumidor brasileiro. 

A estratégia de marketing para aquisição de novos usuários parece clara: investir em anúncios em redes sociais e nas lojas de aplicativo para as pessoas baixarem o app e realizarem suas primeiras compras. Tudo isso regado a muitos cupons e frete grátis. 

Segundo dados da Conversion, foram mais de 200 milhões de acessos no mês de março de 2025, um crescimento superior a 40% em relação ao mês de fevereiro. Os acessos, em sua grande maioria, são acessos vindos de tráfego direto e mídia paga. 

A Temu vem investindo pesado em anúncios nas redes sociais, com muitos descontos, produtos “grátis” e cupons de desconto para se tornar um fenômeno. Aposto que você já foi impactado por algum anúncio da plataforma enquanto navegava no Instagram. 

O tráfego orgânico da Temu

O primeiro passo para expandir o e-commerce para terras tupiniquins começa com um site em português e um domínio “.br”. Hoje já existe um redirecionamento para uma página em português quando digitamos “temu.com”.

Redirecionamentos Temu. Acesso: 20/05/2025

Eles também já compraram o domínio “temu.com.br”. No entanto, não me parece que eles vão adotar o domínio para operar no Brasil e vão seguir utilizando como subpasta, igual fazem nos outros países em que operam. 

Redirecionamentos Temu. Acesso: 20/05/2025

Mesmo que o crescimento orgânico aconteça de forma mais lenta, ele está acontecendo claramente. Os dados apresentados no SEMrush mostram uma linha com um crescimento mais acentuado acontecendo no ano de 2025. 

Dados do temu.com/br no SEMRush. Acesso: 20/05/2025

No mês de janeiro de 2024, a Temu.com/br teve um total de 55,4k de tráfego, no mês de abril o site registrou 397k acessos.

Mesmo que ainda esteja longe da Shopee, que teve 36,7M de tráfego em abril, o objetivo da Temu não é ganhar na SERP. O verdadeiro jogo deles parece estar em se consagrar como um ótimo aplicativo de compras e não um site (como a Amazon ou o Mercado Livre). 

A Shopee, que chegou ao mercado brasileiro com uma estratégia similar, demorou cerca de 9 meses para bater o seu primeiro 1M de tráfego orgânico. 

Segundo os dados da SEMrush, começou a ter um tráfego relevante no mês de janeiro de 2020, com cerca de 50k, e batendo a casa do milhão no mês de setembro do mesmo ano.  

Muito provavelmente, a pandemia ajudou a impulsionar as compras online e a Shopee foi beneficiada com isso. Por não ter um cenário similar, a Temu deve bater a casa do 1M de tráfego orgânico no segundo semestre. 

Além disso, a Shopee investiu bastante em anúncios televisivos, ajudando a disseminar a sua marca para mais pessoas, ainda mais com o uso de astros mundiais. Quem não lembra do comercial da shopee com o Jackie Chan ou o Terry Crews? 

Como a Temu pode melhorar o seu desempenho no orgânico?

Se a Temu deseja ser uma potência, ele deve melhorar o seu desempenho em tráfego orgânico. Mas como fazer isso?

O primeiro passo seria possibilitar a indexação das páginas de pesquisa do e-commerce, removendo a tag de “noindex”. A Shopee, por exemplo, permite a indexação e isso atrai bastante tráfego por conta do alto volume de páginas indexadas, abrangendo um volume maior de buscas.

Exemplo: 

Temu: existem cerca de 2 milhões de páginas indexadas hoje, dessas, somente 2 páginas são páginas com a string de pesquisa “search_result.html?search_key=”

Páginas indexadas no Google do site temu.com/br. Acesso 21/05/2005

Ao pesquisarmos “camisa” na Temu, somos levados para URL https://www.temu.com/br/search_result.html?search_key=camisa&search_method=user&refer_page_el_sn=200010&srch_enter_source=top_search_entrance_10005&refer_page_name=home&refer_page_id=10005_1747839607905_451vag8hke&refer_page_sn=10005&_x_sessn_id=09spv6komg

A Url está com a tag de “noindex”

Shopee: possui cerca de 41 milhões de páginas indexadas hoje, dessas, 14 milhões possuem a string de pesquisa “search?keyword=”

Páginas indexadas no Google do site shopee.com.br. Acesso 21/05/2025

Ao pesquisarmos “camisa” na Shopee, somos levados para URL
https://shopee.com.br/search?keyword=camisa → Redirecionamento para → https://shopee.com.br/list/Camisa

Outro ponto a ser resolvido seria o serviço. Atualmente, a loja da Temu possui uma reputação ruim no site “Reclame Aqui”, classificada como “não recomendada”. Além disso, chama a atenção o número alto de visualizações na página da empresa. 

Quando falamos de tráfego orgânico, estamos falando também de construção de autoridade e usuários mais fiéis que os provenientes de tráfego pago. Por essa questão, que precisamos sempre prover boas experiências para todos que utilizam o site. 

São 4.5 milhões de visualizações na página da Temu, quase 1 milhão de visualizações a mais que a sua concorrente Shopee. Isso mostra o interesse dos usuários na empresa, mas é preciso melhorar o posicionamento da empresa para resolver os casos. 

Avaliação Temu no portal Reclame Aqui. Acesso: 21/05/2025
Avaliação Shopee no portal Reclame Aqui. Acesso: 21/05/2025

O terceiro passo seria procurar oportunidades de backlinks. A importância dos backlinks para construção de autoridade não é uma novidade no mundo do SEO, e a Temu poderia investir e ter sites importantes direcionando tráfego para o seu e-commerce. 

Por fim, incluiria links importantes no rodapé da home. Organização é um dos pilares de um bom SEO. Os crawlers dos mecanismos de pesquisa precisam chegar rápido até as páginas importantes do site e com uma boa estratégia de lincagem interna isso é fácil de ser feito. 

Atualmente, o rodapé do site da Temu é simples e pobre em links: 

Rodapé do site temu.com/br. Acesso: 21/05/2025

Como exemplo de boa prática, podemos observar o rodapé da Shopee, onde é possível encontrar os links para as principais categorias do site: 

Rodapé do site shopee.com.br. Acesso: 21/05/2025

Uso da mídia paga para construção de awareness da marca 

Se você não é um morador da China ou algum país onde a Temu atuava, antes de 2024 você provavelmente nunca ouviu falar sobre a empresa. Agora, a sensação é de que ela está em todo o lugar. 

A ferramenta do Google que mostra as tendências de pesquisas dos usuários brasileiros, o Google Trends, mostra que as buscas com o termo “Temu” começaram a subir a partir do mês de maio de 2024, tendo seu primeiro pico no mês de junho do mesmo ano. 

Dados do Google Trends mostrando o interesse pelo termo “Temu” em 2025. Acesso: 20/05/2025

O objetivo da empresa, além de vender seus produtos, é conquistar um lugar no imaginário dos consumidores do mercado brasileiro de forma rápida, enquanto constroem a estratégia de posicionamento no tráfego orgânico. 

Por mais que o tráfego pago muitas vezes seja caro, ele traz os visitantes qualificados para dentro do aplicativo e os rouba dos concorrentes. A perspectiva é que, após terem conquistado um lugar na mente dos consumidores, os anúncios devem ir diminuindo gradualmente, até chegarem a um patamar equilibrado.

No entanto, é sempre necessário lembrar que o tráfego pago é uma ferramenta que precisa ser utilizada de forma sensata em uma estratégia bem construída. 

No mês de abril de 2025, a Temu deixou de anunciar na loja de aplicativos do Google nos Estados unidos e o seu aplicativo saiu de uma das principais posições e acabou indo para o esquecimento. 

O que mais é possível aprender com a Temu?

Outros aprendizados que podemos tirar da Temu são: 

Utilizar o tráfego pago para atrair usuários e tornar meu negócio conhecido. A utilização de anúncios pela Temu auxiliou a empresa a ultrapassar grandes e-commerce brasileiros em números de sessões e de usuários novos por mês. A Temu comprou relevância. 

Tráfego pago não é sustentável por longos períodos sem estratégia. Veicular anúncios para trazer usuários e se tornar conhecido é uma ótima estratégia no começo, porém, em algum momento, você precisa estruturar o seu site para o tráfego orgânico equilibrar a balança. 

Sem uma audiência construída de forma sólida, se um dia você desligar os anúncios, sua empresa será esquecida. 

Crescer organicamente leva tempo. Mesmo a Temu, que tem se mostrado uma potência, não conseguiu bater 1M de tráfego orgânico em 6 meses, por isso não se preocupe se o tráfego da sua empresa não chegar lá tão rápido também. Você precisa que as pessoas certas encontrem seu site e não somente volume. 

Às vezes, o seu foco não precisa ser o site, mas o seu app. A cada dia, mais e mais pessoas fazem compras e outras atividades direto em aplicativos. Esse é um comportamento cada vez mais comum, então nem sempre você será o 1º site nas buscas, mas pode ser o 1º  app. 

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Shopee Jackie Chan Propaganda 9.9 (comercial) nonadult
Chats de IA levam menos tráfego aos sites que o Reddit, revela estudo da Ahrefs https://naoeagencia.com.br/inteligencia-artificial/2025/05/14/chats-de-ia-levam-menos-trafego-aos-sites-que-o-reddit-revela-estudo-da-ahrefs/ Wed, 14 May 2025 13:47:49 +0000 https://naoeagencia.com.br/?p=735 A ascensão das ferramentas de Inteligência Artificial (IA) generativa, como ChatGPT, Perplexity e Gemini, prometia uma nova era na forma como os usuários descobrem informações e, consequentemente, como os sites recebem tráfego. No entanto, um estudo recente da Ahrefs, analisando a composição do tráfego de aproximadamente 35.000 sites, lança um balde de água fria nesse entusiasmo inicial: os chats de IA, como fonte de tráfego de referência, ainda são modestos e, surpreendentemente, enviam menos tráfego do que plataformas como o Reddit.

Embora o tráfego atribuível à IA esteja crescendo, ele ainda não representa uma parcela significativa do bolo, levantando questões sobre o nível de investimento que as empresas devem dedicar à otimização para esses canais.

O panorama do tráfego de referência: IA em perspectiva

O estudo da Ahrefs, que contou com a agregação de dados pela cientista de dados Xibeijia Guan, revelou que:

  • IA é uma fonte modesta: A IA envia apenas 0,1% do tráfego total de referência para os sites analisados. Isso a coloca muito atrás da busca orgânica (43,8%), tráfego direto (42,3%) e social (13,1%), e ligeiramente abaixo do e-mail (0,2%).
  • Domínio do Google persiste: Ao detalhar as fontes, o Google continua sendo o rei absoluto, enviando 345 vezes mais tráfego do que os três principais chats de IA (ChatGPT, Perplexity e Gemini) combinados. A IA representa apenas 0,12% do tráfego total, enquanto o Google sozinho responde por 41,14%.

A comparação surpreendente: IA vs. Reddit

Para contextualizar o volume de tráfego de referência da IA, o estudo o comparou com o do Reddit. Os resultados são notáveis:

  • Tráfego similar (e o Reddit na frente): Os três principais chats de IA (ChatGPT, Perplexity e Gemini) enviam, juntos, aproximadamente a mesma porcentagem de tráfego que o Reddit sozinho (0,12% da IA contra 0,13% do Reddit).
  • Crescimento rápido do Reddit: Segundo a pesquisa, o tráfego de referência do Reddit começou a ganhar força em novembro de 2024 e, em pouco tempo, já ultrapassou o tráfego combinado das principais IAs.

Essa constatação levou a questionamentos na comunidade, como destacado em comentários no LinkedIn: enquanto novas agências prometem “maravilhas” com a “otimização para LLM”, o marketing eficaz no Reddit não recebe o mesmo destaque, apesar de seu potencial de tráfego comparável ou superior.

Perplexity ultrapassa Gemini como fonte de referência de IA

Dentro do universo do tráfego de IA, a distribuição entre as plataformas também apresenta insights interessantes:

  • Ordem de tráfego: Historicamente, a expectativa era ChatGPT > Perplexity > Gemini, com o ChatGPT respondendo por cerca de 50% do tráfego de IA.
  • Mudança no pódio: A nova pesquisa da Ahrefs mostra que o Perplexity ultrapassou o Gemini como fonte de tráfego de referência. A distribuição atual é: ChatGPT (50%), Perplexity (30,7%) e Gemini (17,6%).

Essa ascensão do Perplexity pode ser explicada por dados de Kevin Indig, que indicam que o Perplexity é a IA com maior probabilidade de citar uma marca em suas respostas (3,17 menções de marca em média, contra 2,87 do ChatGPT e 2,80 do Google AI Overviews).

O mesmo estudo de Indig revela que as menções de marca no ChatGPT correlacionam-se mais com o Domain Rating do site, enquanto as menções no Perplexity e nas AI Overviews do Google correlacionam-se mais com a profundidade do conteúdo (contagem de palavras, pontuação Flesch, etc.).

Para quem o tráfego de IA é mais relevante?

A pesquisa da Ahrefs também identificou onde o tráfego de IA tem maior impacto:

  • Geografia: Os Estados Unidos lideram, com sites no país tendo 1,6 vezes mais chances de receber tráfego de IA do que na Índia ou no Reino Unido (as próximas regiões no ranking).
  • Setor industrial: O setor de “Negócios e Indústria” recebe o dobro de tráfego de IA em comparação com os setores de “Empregos e Educação” e “Saúde”, que vêm em seguida.
  • Tamanho do site: Sites menores (com menos de 10.000 visitas mensais) tendem a receber uma porcentagem maior de seu tráfego total vindo de LLMs (0,3%) em comparação com sites maiores (com mais de 1 milhão de visitas, onde a IA representa 0,1%). Uma possível explicação é que marcas menores são menos familiares, levando a mais cliques exploratórios.

Para sites fora dessas regiões e setores de maior impacto, a busca ativa por tráfego de IA pode gerar retornos decrescentes.

Que tipo de conteúdo atrai mais tráfego de IA?

Analisando a frequência de palavras-chave em URLs que recebem tráfego de IA, a Ahrefs identificou padrões:

  • Conteúdo “melhor de”: Páginas com termos como “melhor” (7,06%), “top” (5,5%) e conteúdo comparativo (“vs”, 4,88%) atraem uma proporção significativa.
  • Guias e conteúdo instrucional: Termos como “guia” (6,35%) também são proeminentes.
  • Pesquisa de produtos e serviços: A presença de n-gramas como “contato” (6,8%), “produtos” (6,43%), “produto” (4,71%) e “serviços” (4,53%) sugere que os usuários tendem a clicar mais quando pesquisam sobre produtos, marcas e serviços.

Além dos cliques: o valor indireto da IA

É crucial entender que o tráfego atribuível diretamente nos analytics é apenas a “ponta do iceberg” quando se trata do valor da IA.

  • Subnotificação: Pesquisas anteriores da Ahrefs já haviam notado que parte do tráfego de IA é frequentemente classificado como “tráfego direto” nas ferramentas de análise.
  • Menos cliques, mais informação: Mesmo sem anomalias de rastreamento, o tráfego de IA seria modesto porque os usuários conseguem realizar mais de suas pesquisas dentro da própria interface da IA, sem a necessidade de clicar para sites externos.

A realidade, segundo a Ahrefs, é que a IA impulsiona significativamente o reconhecimento de marca (brand awareness), cria públicos mais informados e entrega leads mais qualificados. O tráfego direto e as conversões são um “feliz subproduto” e devem ser tratados como KPIs secundários.

Conclusão: hype vs. realidade no tráfego de IA

A IA é a novidade do momento e todos querem participar. No entanto, o estudo da Ahrefs demonstra que o tráfego de referência gerado por IA ainda é mínimo em comparação com canais estabelecidos. Há um risco real de superinvestimento se as empresas se deixarem levar apenas pelo hype.

Assim como as redes sociais buscam manter os usuários em suas plataformas, as IAs também são projetadas para manter conversas interessantes dentro de seu ambiente, tornando o envio de tráfego externo um objetivo secundário. Por essa razão, a IA provavelmente nunca será uma das principais fontes de referência nos relatórios de analytics.

Os principais benefícios da otimização para IA residem no aumento do reconhecimento e do sentimento positivo em relação à marca, através de menções na plataforma. Antes de se comprometer totalmente com a construção de tráfego de IA, as empresas devem se perguntar: meu público realmente está usando IA para encontrar meu negócio? A decisão deve ser baseada em dados regionais, verticais e no comportamento específico de seus clientes.

Uma vez que haja confiança de que o público está lá, o rastreamento amplo e regular da presença da sua marca nas respostas de IA torna-se uma estratégia válida, focada mais na conscientização do que apenas nos cliques.

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Criação de conteúdo com IA: em vez de debater “se”, precisamos discutir “como” https://naoeagencia.com.br/seo/portais-de-noticia/2025/05/12/criacao-de-conteudo-com-ia-em-vez-de-debater-se-precisamos-discutir-como/ Mon, 12 May 2025 15:03:12 +0000 https://naoeagencia.com.br/?p=701 A discussão se devemos criar conteúdo com IA será ultrapassada em poucos tempo. Precisamos, agora, liderar conversas sobre como fazer isso da forma mais ética e responsável.

O debate sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) na criação de conteúdo atingiu um ponto de inflexão.

Recentemente, uma publicação no LinkedIn de uma profissional respeitada, mencionando a redução de sua equipe de 12 para 5 pessoas em poucos meses graças ao uso de IA e prompts otimizados – agora parte de um curso – gerou um incômodo palpável na comunidade. A postagem original que motivou este artigo expressava uma preocupação genuína: “Quando [a IA] vira justificativa pra cortar equipe e ainda é empacotada como ‘fórmula mágica’ pra vender curso, a coisa começa a me preocupar.”

Publicação de Rejane Toigo – Fonte: Instagram/Publicação LinkedIn

Essa inquietação é compreensível e levanta questões éticas e práticas cruciais. No entanto, a tônica da discussão predominante, focada em um receoso “devemos ou não usar IA para criar conteúdo?”, parece cada vez mais improdutiva. Assim como o motor a vapor, a eletricidade, o computador pessoal e a internet, a IA generativa não é uma onda passageira que podemos escolher surfar ou ignorar. Ela veio para ficar.

A verdadeira questão que precisamos enfrentar, com urgência e profundidade, não é se a IA será usada, mas como ela será integrada aos nossos processos de forma ética, eficiente e, acima de tudo, mantendo a qualidade e a humanidade que geram valor real.

Este texto se baseia em uma visão intermediaria de tudo quanto temos presenciado. Conteúdo criado em massa sem edição humana vs. demonização do conteúdo criado por IA.

Na nossa visão ambas ideias estão erradas.

O “como” começa com os fundamentos: revisão e o papel do copidesque

Resistir à adoção da IA na criação de conteúdo é como tentar segurar a maré com as mãos. Em vez disso, precisamos nos concentrar em como utilizá-la de forma inteligente, mitigando seus riscos e potencializando suas qualidades. E isso começa com princípios que, na verdade, sempre deveriam ter norteado a boa produção de conteúdo:

1. A indispensabilidade da revisão humana

Um dos maiores temores em relação ao conteúdo gerado por IA é a propensão a erros factuais (“alucinações”), inconsistências de tom, ou a reprodução de vieses presentes nos dados de treinamento. No entanto, vale lembrar uma regra de ouro da publicação de qualidade, muitas vezes negligenciada na pressa da produção digital: nenhum texto, via de regra, deveria ser publicado sem a revisão minuciosa de um revisor humano qualificado.

  • Mitigação de Erros: A revisão humana já lida com a questão dos possíveis erros no processo. Um revisor atento pode identificar e corrigir imprecisões factuais, problemas de coesão e coerência, erros gramaticais ou de estilo que a IA possa ter introduzido ou perpetuado. Seja o texto originado por um humano ou por uma IA, a etapa de revisão é um controle de qualidade essencial.
  • Validação e Contextualização: Além da correção, o revisor humano pode validar a adequação do conteúdo ao público-alvo, ao tom da marca e ao contexto cultural específico, algo que a IA ainda tem dificuldade em capturar com a mesma nuance.

Portanto, a preocupação com a “qualidade duvidosa” do texto de IA pode ser significativamente amenizada se incorporarmos, ou reforçarmos, a prática rigorosa da revisão humana em todos os fluxos de trabalho que envolvam IA.

2. A ascensão do profissional como “copidesque” (editor de texto)

Em vez de os redatores se sentirem ameaçados pela capacidade da IA de gerar texto “do zero”, eles deveriam se concentrar em evoluir para um papel mais estratégico e de maior valor agregado: o de copidesque (ou editor de texto, em uma tradução mais ampla, mas com a profundidade que o termo original carrega).

  • O Que Faz um Copidesque? Historicamente, o copidesque é o profissional de redação responsável por receber o texto bruto (de repórteres, redatores, etc.) e aprimorá-lo significativamente. Isso envolve não apenas corrigir erros, mas também:
    • Verificar a veracidade das informações.
    • Melhorar a clareza, a fluidez e o estilo.
    • Adequar o texto ao público e ao veículo.
    • Cortar redundâncias e adicionar informações faltantes.
    • Garantir a coesão e a coerência.
    • Propor títulos e intertítulos impactantes.
    • Em suma, transformar um rascunho em uma peça final polida, precisa e envolvente.
  • O redator como Copidesque de IA: Com a IA assumindo parte da “escrita” inicial (a geração do rascunho), o profissional humano pode e deve se concentrar em ser um copidesque de excelência. Em vez de se preocupar em redigir linha por linha, o foco se desloca para o texto que será publicado. O profissional passa a “pilotar” a IA, direcionando-a com bons briefings, e depois assume o papel crítico de lapidar, contextualizar, humanizar e validar o resultado.
  • Menos preocupação com a tela branca, mais com a qualidade final: A IA pode ajudar a superar o bloqueio da “página em branco”, fornecendo um ponto de partida. O valor do profissional humano residirá em sua capacidade de transformar esse rascunho, muitas vezes genérico ou superficial, em algo que realmente ressoe com o leitor, que tenha profundidade, perspectiva e a “alma” que a IA, por si só, não consegue replicar.

Como bem apontado na postagem que inspirou este artigo: “Mesmo com os melhores prompts do mundo, conteúdo 100% gerado por IA começa a soar igual. Sem alma. Sem contexto. É só olhar pra internet. Tá cheio disso. Tudo começa a virar mais do mesmo.” O papel do copidesque/editor é justamente combater essa homogeneização, injetando a criatividade, sensibilidade, intuição e repertório humano que fazem a diferença.

Redatores e IA podem e devem trabalhar juntos

Processos claros para a criação de conteúdo com IA nas empresas

A simples adoção de ferramentas de IA não garante bons resultados. É preciso integrar essa tecnologia de forma inteligente e supervisionada dentro de processos bem definidos:

1. Supervisão editorial é inegociável

Assim como um editor experiente revisa e orienta o trabalho de redatores e estagiários, o conteúdo gerado ou auxiliado por IA também deve ser rigorosamente supervisionado.

  • Controle de Qualidade e Alinhamento: A supervisão garante que o conteúdo esteja alinhado com os objetivos da empresa, o tom de voz da marca, as diretrizes editoriais e, fundamentalmente, que seja preciso e ético.
  • Responsabilidade Humana: Mesmo que a IA participe da criação, a responsabilidade final pelo conteúdo publicado deve ser humana. Isso inclui a verificação de fatos, a prevenção de plágio e a garantia de que o conteúdo não seja prejudicial ou enganoso.

2. Conteúdo autoral, mesmo com auxílio da IA

A IA pode ser uma poderosa ferramenta de produtividade, mas o conteúdo final precisa carregar a autenticidade e a perspectiva da marca ou do autor.

  • O toque humano e a experiência próxima: O profissional (atuando como copidesque/editor) é quem deve infundir o tom do veículo, compartilhar experiências relevantes (ou garantir que o conteúdo reflita experiências genuínas), e fazer com que o texto tenha um “caráter humanizado”. É a capacidade de contar histórias, de conectar emocionalmente, de trazer nuances e insights que a IA ainda não possui.
  • Evitando o genérico: Conteúdo puramente gerado por IA, sem uma curadoria e edição humanas profundas, tende a ser genérico e repetitivo. A autoralidade, mesmo que seja na forma de editar e enriquecer um rascunho da IA, é o que diferenciará o conteúdo de valor do “mais do mesmo”.

3. Desincentivar o “prompt genérico”, incentivar o “briefing inteligente”

A qualidade do resultado da IA está diretamente ligada à qualidade da instrução (prompt) que ela recebe.

  • “Crie um conteúdo sobre X” não funciona: Prompts vagos e genéricos como “crie um artigo sobre marketing digital” resultarão em textos superficiais, sem originalidade e que pouco agregam valor. Esse tipo de abordagem deve ser fortemente desincentivada.
  • O poder do briefing detalhado: Por outro lado, fornecer à IA (e ao profissional que a opera) briefings claros e detalhados, especificando o público-alvo, os objetivos do conteúdo, o tom de voz desejado, os pontos principais a serem abordados, as fontes de referência, e até exemplos de estilo, tende a gerar resultados significativamente melhores e mais alinhados. O prompt não é apenas uma pergunta, mas um direcionamento estratégico.

Conclusão: a IA é obrigatória, mas a humanidade é o diferencial

A discussão sobre “se” devemos usar IA na criação de conteúdo está rapidamente se tornando obsoleta. A tecnologia está aqui, é poderosa e sua adoção não é mais opcional para quem busca eficiência e escala; é obrigatória.

A narrativa comum de que “você perderá seu emprego para a IA” precisa de um adendo crucial: você não perderá seu emprego para a IA, mas sim para alguém que sabe usar a IA de forma eficaz E que consegue agregar valor humano insubstituível.

A verdadeira ameaça não é a IA em si, mas a complacência em não evoluir. Os “redatores de conteúdo” tradicionais, aqueles focados apenas na produção de texto em volume, podem de fato estar com os dias contados se não se adaptarem. No entanto, estamos prestes a ver um florescimento de editores, copidesques e estrategistas de conteúdo que dominam a arte de colaborar com a IA, utilizando-a como uma ferramenta para amplificar suas próprias capacidades.

Esses novos profissionais serão aqueles capazes de, em meio à eficiência da IA, injetar criatividade, sensibilidade, intuição, experiência vivida, pensamento crítico e um profundo entendimento do contexto humano – qualidades que a IA, por mais avançada que seja, ainda não consegue replicar genuinamente.

O futuro do conteúdo de valor não reside na substituição do humano pela máquina, mas na simbiose inteligente entre os dois, onde a tecnologia potencializa o que há de melhor na capacidade humana de criar, conectar e comunicar. A discussão precisa ser sobre como navegar essa nova realidade, com responsabilidade, ética e foco na verdadeira qualidade.

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Meta: Mark Zuckerberg quer acabar com as agências, mas isso realmente é bom? https://naoeagencia.com.br/midia-paga/2025/05/02/meta-mark-zuckerberg-quer-acabar-com-as-agencias-mas-isso-realmente-e-bom/ Fri, 02 May 2025 13:50:17 +0000 https://naoeagencia.com.br/?p=547 Durante uma entrevista com Ben Thompson, do Stratechery, Mark Zuckerberg descreveu uma visão de futuro que pode representar a ruptura mais radical já vista no setor de publicidade. Não apenas uma reestruturação de canais, formatos ou criativos, mas uma mudança completa de quem detém o controle sobre o processo publicitário — das agências para as plataformas. “Você é um negócio, você vem até nós, você nos diz qual é o seu objetivo, você se conecta à sua conta bancária, você não precisa de nenhum criativo, você não precisa de nenhuma segmentação demográfica, você não precisa de nenhuma medição, exceto para poder ler os resultados que a gente cospe.” A fala resume a proposta de Zuckerberg: uma automação completa da publicidade, onde o anunciante apenas informa seu objetivo, e a Meta cuida de absolutamente todo o restante.


O plano da Meta: uma cadeia publicitária 100% automatizada

Zuckerberg reconhece que hoje ainda há uma etapa “difícil” no processo publicitário: a criação. Mesmo com algoritmos avançados de segmentação e mensuração, a produção de fotos, vídeos e textos para campanhas continua dependendo de humanos — designers, redatores, estrategistas, diretores de criação. A Meta quer romper com isso.

O plano é que o anunciante chegue com uma ideia geral de seu produto ou serviço e que a própria plataforma seja capaz de gerar conteúdos infinitos — imagens, vídeos, variações de texto —, testar todos esses criativos em diferentes públicos e contextos, medir os resultados e fazer iterações constantes, tudo impulsionado por IA. O conceito, informalmente apelidado de “criativo infinito”, elimina a necessidade de fornecedores externos, agências de mídia, agências criativas, profissionais de estratégia, e até mesmo analistas de performance. A promessa é de eficiência total: mais resultados com menos envolvimento humano.


Automação total: eficiência ou apagamento do discernimento?

O discurso da Meta é sedutor, principalmente para pequenas e médias empresas. O uso de IA para escalar produção criativa e automatizar testes parece finalmente democratizar o acesso à publicidade digital de alta performance. Empresas que não têm orçamento para contratar agências ou construir times internos podem, em tese, lançar campanhas otimizadas com o clique de um botão.

Mas é justamente nesse modelo que surgem os primeiros pontos críticos. A ideia de que a plataforma “cospe resultados” e o cliente “apenas lê” pressupõe um nível de confiança absoluto nos dados que a própria Meta fornece — dados que interessam diretamente à própria Meta. Quem fiscaliza a atribuição correta de conversões? Quem verifica se impressões e cliques são legítimos? Quem garante que os custos por aquisição não estão sendo artificialmente inflacionados por mecanismos de otimização que priorizam lucro da plataforma?

Ao eliminar a agência, elimina-se também o papel do intermediário que tradicionalmente servia como fiscal do processo. Por mais que a relação cliente-agência nem sempre seja perfeita, ela cria um sistema de dupla checagem — onde a plataforma precisa provar resultados e a agência precisa justificar investimentos. Quando a plataforma se torna vendedora, produtora, executora e auditora de todo o ecossistema, entra-se em um modelo fechado, onde o anunciante perde qualquer referência externa.


O fim do juízo criativo e da comunicação com identidade

Para além da métrica e da eficiência, existe outro risco menos tangível, mas igualmente preocupante: o da perda da criatividade com propósito. Agências não são apenas produtoras de arte e texto — são guardiãs da identidade da marca. São elas que, historicamente, ajudam as empresas a traduzirem sua missão em mensagens que ressoem com públicos reais, em contextos culturais variados e em momentos sociais específicos.

Zuckerberg fala com entusiasmo sobre a possibilidade de “produzir um número infinito” de criativos. De fato, gerar variações automáticas de um mesmo anúncio pode ser útil para testes de performance. Mas há uma grande diferença entre testar dez versões de uma chamada para ação e construir uma campanha com storytelling, emoção, ironia, crítica social ou qualquer nuance humana que não se replica com prompts genéricos. Criatividade não é apenas repetição com variações. É interpretação, é ousadia, é linguagem simbólica — e tudo isso é perdido quando o centro da criação está nas mãos de um algoritmo que responde a estímulos numéricos, e não a valores.


Privacidade, dados e riscos estruturais

Outro ponto subestimado nessa proposta de automação total é a sugestão de “conectar a conta bancária” do anunciante diretamente à Meta, como parte do fluxo automático. Isso pressupõe uma entrega de confiança total, não apenas em relação à medição de resultados, mas também ao controle financeiro.

Mesmo em um mundo onde as APIs financeiras estão cada vez mais integradas com sistemas de pagamento e automação, a concentração de dados sensíveis (financeiros, comportamentais e criativos) em uma única entidade privada como a Meta é um risco estrutural. E, historicamente, o setor de publicidade digital já conviveu com diversos escândalos de privacidade, desde uso indevido de dados pessoais até manipulações de métricas.

Ao remover todos os intermediários humanos e entregar à Meta o controle do dinheiro, do conteúdo, da veiculação e da métrica, o anunciante se posiciona em uma relação de dependência extrema. Essa centralização fere o princípio básico da concorrência saudável e da responsabilidade compartilhada.


Um futuro sem agências — ou um futuro com novos papéis?

Zuckerberg não está errado ao apontar que as agências, como conhecemos, serão desafiadas. O modelo atual, muitas vezes burocrático, caro e lento, já sofre pressão por transformação. A IA traz ferramentas que reduzem tarefas repetitivas e aumentam a produtividade criativa — e isso é ótimo. Mas isso não justifica o apagamento total das agências.

O que se desenha é uma necessidade urgente de reconfiguração. Agências precisarão se posicionar como curadoras de conteúdo gerado por IA, como guardiãs da integridade de marca e como auditores independentes dos sistemas das plataformas. Sua função poderá ser menos operacional e mais estratégica, mais voltada para governança, ética e inteligência de marca — algo que nenhuma plataforma, por mais poderosa, pode replicar automaticamente.


Conclusão: inovação sem responsabilidade é risco

A Meta quer redesenhar a cadeia publicitária para que ela se encaixe perfeitamente dentro de seus sistemas — criativo, veiculação, métrica e resultado. Esse futuro pode ser eficiente, barato e massivo. Mas também pode ser opaco, manipulável e desumanizado.

A pergunta que fica não é se a IA deve estar presente na publicidade — isso é inevitável. A pergunta é: devemos entregar a uma única empresa todos os dados, decisões criativas, critérios de sucesso e recursos financeiros sem qualquer mediação?

A resposta mais prudente não está em resistir à tecnologia, mas em construir sistemas híbridos, onde plataformas automatizam o que podem, mas onde agências, criativos e estrategistas continuam a garantir que a publicidade não perca sua alma. Porque no fim, comunicar bem ainda é — e sempre será — um ato profundamente humano.

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