O recente Google Creator Summit 2025, realizado em Washington D.C., ofereceu um vislumbre raro dos bastidores da Pesquisa Google, reunindo um pequeno grupo de criadores com engenheiros, líderes de produto e formuladores de políticas da empresa. Em meio a um cenário de significativas quedas de tráfego para muitos editores independentes, atribuídas em parte às Visões Gerais de IA (AI Overviews), surgiram discussões cruciais sobre o futuro da busca e o papel dos criadores de conteúdo.
Participantes do evento relataram que, em conversas diretas e íntimas, representantes do Google reconheceram uma consequência não intencional da evolução de seus algoritmos: um favorecimento a sites maiores em detrimento de publicações menores.
Aqui, daremos voz a uma das participantes, Tomiko Harvey, relatando parte da sua experiência. E, óbvio, como você pode esperar, dando nossas visões sobre cada parte.
Google admite desequilíbrio e sinaliza intenção de correção
“Antes de mergulhar, aqui está algo que o Google admitiu antecipadamente na cúpula: eles sabem que seu sistema favoreceu sites maiores. Eles não queriam, mas foi assim que o algoritmo evoluiu”, compartilhou um dos criadores presentes. A empresa teria afirmado diretamente que mais tráfego fluiu para as principais publicações e que estão “tentando ativamente corrigir isso”.
No entanto, a correção não é simples nem imediata. O Google teria enfatizado que reverter ajustes excessivos no algoritmo pode levar meses, descartando a possibilidade de uma solução rápida para reequilibrar a distribuição de tráfego.
Como comentamos aqui, não é uma tarefa simples confiar no Google. Dia após dia, mês após mês, somos convencidos de que suas palavras servem mais para confortar do que para agir necessariamente.
Além disso, ao menos no Brasil, a empresa fez o caminho contrário, diminuindo tráfego de Discover dos editores menores e levando a grandes publicadores, principalmente relacionados ao jornal impresso.
Nesse sentido, a pergunta permanece a mesma. Podemos confiar no que o Google diz?

A mudança de paradigma no SEO: foco na satisfação do usuário
Um dos pontos mais enfatizados no Summit foi a necessidade de uma mudança fundamental na abordagem de SEO. A era de focar apenas em palavras-chave e na extensão do conteúdo, segundo o Google, está dando lugar a uma priorização da satisfação real do usuário.
- Intenção acima de tudo: O conteúdo deve responder direta e claramente ao que o usuário realmente buscou (Necessidades Atendidas).
- Qualidade da Página: O Google avalia se o conteúdo é confiável, útil, claramente escrito e demonstra experiência (E-E-A-T – Experiência, Expertise, Autoridade, Confiança).
- Utilidade Comparativa: O conteúdo é comparado a outros similares para avaliar seu desempenho relativo.
- Adeus ao “Fluff”: O Google admitiu ter incentivado, involuntariamente, a criação de conteúdo longo e cheio de palavras-chave, levando muitos a escreverem para o algoritmo. Agora, a IA é capaz de entender se o usuário está satisfeito, e conteúdo prolixo que enterra a informação principal (como longas histórias em blogs de culinária antes da receita) pode ser penalizado por frustrar o usuário. Clareza e utilidade superam a contagem de palavras.
Aqui, é interessante ver um mea culpa do Google. Entender que, ao menos, a empresa reconhece seus problemas é um alento. Outro ponto interessante é ver que a própria empresa sabe que não é tão simples mudar suas próprias regras.
É comum que pensemos na busca do Google como sendo um algoritmo. Entretanto isso é longe de ser verdade. Há, ao menos, centenas de algoritmos diferentes. Nesse sentido, não é possível apenas apertar um botão e ter o resultado esperado.
O impacto das AI Overviews e a resposta do Google
A presença e o impacto das Visões Gerais de IA foram um tema central. O Google deixou claro que as AIOs vieram para ficar e que seu compromisso primordial é com o usuário final, fornecendo as melhores e mais rápidas respostas, independentemente da fonte. A empresa não estaria prometendo tráfego aos criadores, mas sim a melhor experiência aos usuários da busca.
Isso se alinha com relatórios externos, como um citado de Kevin Indig (Growth Memo), que indicam que consultas com AIOs geram menos visualizações de página para o ecossistema geral de sites.
A crescente importância da mídia social e da conexão humana
Outro ponto de destaque foi a integração mais profunda da mídia social na busca:
- Vídeo Curto na SERP: YouTube Shorts, Instagram Reels e TikToks agora aparecem diretamente nos resultados de pesquisa, oferecendo um novo formato para responder à intenção do usuário.
- Confiança e Conexão: Citando conceitos de economia comportamental como o “Efeito de Doação”, o Google sugeriu que a conexão pessoal que criadores estabelecem com seu público em múltiplas plataformas (rosto, voz, jornada) gera confiança. Essa confiança, por sua vez, leva a maior engajamento e lealdade, sinais que o Google pode reconhecer como indicativos de qualidade e autoridade.
Recomendações para criadores: diversificar e adaptar
Diante desse cenário, a mensagem principal para os criadores foi a necessidade urgente de adaptação e diversificação:
- Diversifique suas Fontes de Tráfego: Não dependa exclusivamente do Google. Invista em Pinterest, Instagram, TikTok, YouTube e, fundamentalmente, construa e utilize sua lista de e-mails.
- Invista em Vídeo: Conteúdo em vídeo, especialmente formatos curtos, é essencial para visibilidade na busca atual. Considere também vídeos mais longos no YouTube para complementar o conteúdo do blog.
- Escreva para Pessoas, Não para Algoritmos: Foque em responder às necessidades reais do seu público com clareza e utilidade. Pergunte diretamente aos seus leitores o que eles querem.
- Seja Humano: A IA não substitui a conexão pessoal. Mostre a pessoa por trás da marca para construir confiança e lealdade.
- Revise seu Conteúdo Existente: Avalie se suas postagens antigas foram escritas mais para o Google do que para o leitor. Considere ajustá-las para maior clareza e foco na intenção do usuário.
Reflexões finais: adaptar ou desistir
O Google Creator Summit 2025 sublinhou uma transformação em andamento na Pesquisa Google. A admissão sobre o desequilíbrio de tráfego e a intenção de corrigi-lo oferecem alguma esperança para pequenos editores, mas a realidade é que a adaptação é inevitável e urgente.
A mudança para um foco na satisfação do usuário, a permanência das AI Overviews e a integração de conteúdo social exigem que os criadores repensem suas estratégias. A dependência exclusiva do Google tornou-se um risco claro. A construção de uma marca forte em múltiplas plataformas, o foco na criação de valor genuíno para o público e a diversificação das fontes de receita e tráfego emergem como os pilares essenciais para a sustentabilidade no novo ecossistema da busca.
A maior parte do que foi descrito aqui, é uma experiência da Tomiko com o evento. Embora eu seja extremamente cético, com o futuro do Google, é interessante ver que a empresa entende estar errando em vários pontos.
Vamos observar!
Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de SEO, tendo participado de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone, além de Portais de Noticia, como Folha Dirigida e Central da Toca.
É fundador do "Não é Agência!"