Você já pensou por que um veículo jornaístico do tamanho da IstoÉ poderia perder 63% do tráfego orgânico e 53% do tráfego Discover de um dia para o outro?
Em alguns casos, como a queda repentina de Discover, não há nenhuma culpa dos editores. Nem de tecnologia, nem de patrocinadores. Zero.
Aqui, este não é o caso.
Ao menos nos últimos meses, o site da IstoÉ abusou e colocou o buscador à prova. O resultado não poderia ser outro. Quedas. Confira!
Histórico recente de ISTOÉ
Antes de mais anda, é fundamental registrar que nada aqui relatado constitui crime ou ato ilícito. Dessa forma, toda análise se baseia, de forma técnica, em analisar a queda do tráfego e, principalmente, o que podemos aprender com ela.
Como é possível ver rapidamente, segundo dados de SimilarWeb, o site saiu da casa dos 16 milhões para algo próximo dos 6 milhões. Uma queda mais que considerável.

Ao ver o gráfico diário, observamos que a queda, repentina, aconteceu entre o dia 7 e 8 de abril.

Os canais impactados foram variados. Ao começar com o canal Direto, que, via de regra, também registra o tráfego via Discover.

Ainda mais expressiva foi a queda de Search, que alcançou 63%.

Histórico maior de IstoÉ
Se, por um lado, o movimento recente do veículo é preocupante, por outro, as maiores quedas já aconteceram em 2021.

O mesmo aconteceu com as palavras-chave.

Vale lembrar também que a ISTOÉ tem passado por uma série de reformulações. O portal, por exemplo, não tem relação com a antiga revista. Por isso, no footer já avisa que não faz nenhum tipo de cobrança ou cancelamento.

Em 2022, os domínios foram vendidos por 15 milhões. Em tese, isso significa um trabalho novo com novas perspectivas, o que ajuda a explicar os números.
Aqui, ao final do conteúdo do footer, temos a primeira menção a “ISTOÉ GERAL”. O que será isso? Por que ela não tem relação com o site? Explicaremos agora.
ISTOÉ Geral
A primeira vez que encontramos algum conteúdo relacionado ao IstoÉ Geral foi em 23 de setembro de 2024. A última aparição aconteceu em 10 de abril de 2025, após a maior queda dos últimos meses.
Aparentemente, nada mais que um blog qualquer.

Ao abrir um conteúdo, embora tivesse qualidade duvidosa, nada chamava muita atenção.

Entretanto, ao ver o footer da página, logo entendemos o que aconteceu. Na verdade, o conteúdo não pertencia a IstoÉ. Era uma parceria com outra empresa. No caso, a Myth Desenvolvimento LTDA.
A própria IstoÉ deixa claro que não tinha nenhum vínculo com o conteúdo exibido no seu domínio.
A ISTOE GERAL é uma editoria independente sem vinculação editorial e societária com A ISTOÉ PUBLICAÇÕES LTDA.

Qual o problema enfrentado aqui, talvez você pergunte. Os profissionais mais atentos, talvez se lembrem do problema que outro grande veículo enfrentou recentemente. Dessa vez, os Estados Unidos.
Abuso de autoridade
A Forbes, durante o ano de 2024 enfrentou alguns problemas, relacionados a “ser parasita” e “abuso de autoridade” que acontece quando o Google confia na qualidade geral do domínio e dá visibilidade a pastas que não pertencem a mesma empresa, tendo conteúdo de qualidade duvidável ou objetivos muito distintos do principal. Por exemplo, um portal de noticias que tem uma área para cupons de compras.
O maior problema com abuso de autoridade está nos parceiros. Eles sabem que o Google avalia um conteúdo novo a partir do histórico do domínio. Por isso, algumas empresas procuram portais consolidados para fazer com que o conteúdo delas tenha maior desempenho e, consequentemente, resultados via anúncios, como Adsense.
É um problema para o usuário, que não pode confiar na marca que está veiculando o conteúdo – dificilmente ele iria ao rodapé para saber que não é um conteúdo gerado pela empresa, quanto para o Google, gerando uma crise de confiança em relação a tudo o que postado.
Aparentemente, IstoÉ enfrenta o mesmo problema que Forbes teve no passado. A grande diferença é que, no caso brasileiro, a empresa parceira teve relativamente pouco tempo para comemorar. Em abril, tudo desmoronou.
Provavelmente, receberam uma ação manual do próprio Google, uma vez que o movimento repentino foi após a atualização.

Com os resultados ruins, no dia 10 de abril, a parceria terminou. Entretanto, não foi o fim da história.
O maior problema é que o conteúdo da própria empresa também começou a minguar para o Google. Descontando-se os dados de /geral/ os resultados do restante do site também não foram bons no período, caindo mais de 50%.

Vale lembrar aqui que disponibilizar para seu usuário um conteúdo que não é gerido pela sua equipe é extremamente preocupante e pode impactar a forma com que o Google vê todo o site.
Até o fechamento deste conteúdo, a ISTOÉ não respondeu nossos questionamentos.
O que o site da ISTOÉ pode fazer?
Em primeiro lugar, a empresa precisa voltar a se preocupar extremamente com seu leitor. Pode ser tentador tentar disponibilizar uma parte do site para outra empresa, mas os benefícios de curto prazo dificilmente compensarão os malefícios vindouros.
Aqui, talvez, apenas a empresa parceira tenha alguma vantagem, uma vez que ela não dependa do domínio.
Um ponto preocupante, para mim, foi a forma com que a empresa lidou com os conteúdos /geral/. Embora não sejam mais veiculados, eles foram redirecionados para a Home do site.
Seria extremamente interessante se a empresa deixasse esse conteúdo como 404 (ou similar), indicando que o conteúdo não existe mais e que não há nenhuma intenção em recupera-lo ou usá-lo para algum benefício da saúde ou do estado próprio.
No mesmo sentido, é fundamental pensar EEAT, não como uma otimização, mas como uma segurança para que os usuarios entendam a qualidade do conteúdo e, depois, o próprio Google.
Depois de desastres como esse, deve-se repensar cada estrutura com o intuito de se descolar do erro outrora cometido.
O que profissionais de SEO e Conteúdo devem saber?
Alguns pontos fundamentais são:
- uma parte pode invalidar o todo; analise com critério qualquer tipo de parceria que possa diminuir o valor geral do seu domínio;
- ao ver possibildiades de crescimento, coloque na conta o quanto ela interagirá com o conteúdo principal; o ideal é que outras avenidas de crescimento ajudem a parte principal, não o contrario;
- estratégias polêmicas funcionam até que elas ganhem visibilidade; após notarem que você está grande demais, provavelmente você cairá;
- estratégias polêmicas, além de poderem funcionar por pouco tempo, podem colocar em dificuldade o seu tráfego original;
- depois de uma punição, você precisa tentar remover todo resquício do prática controversa e mostrar, com ações, o arrependimento.
Acompanharemos o case. Como spoiler, esse caso não é único.
Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de SEO, tendo participado de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone, além de Portais de Noticia, como Folha Dirigida e Central da Toca.
É fundador do "Não é Agência!"