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domingo, maio 18, 2025
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Grandes portais de notícias infringem documentações do Google para ter mais tráfego no Discover

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Sumário

Não é segredo para ninguém que o Discover sofreu diversas mudanças no último mês.

A maioria dos editores não sabe o que aconteceu nem o que fazer para recuperar o tráfego perdido.

Mas, a verdade é que ele está concentrado nas mãos, justamente, de quem tem feito o oposto para obtê-lo.

Engana-se, ainda, quem acredita que os vencedores são portais pequenos que recorrerem a técnicas de black-hat. Aqui, falaremos de grandes portais.

Disclaimer

Já de início, vale afirmar que desobedecer regras do Google não institui crimes ou ato ilícito. Tais empresas estão, apenas, correndo riscos de perderem severamente o tráfego.

Também, preciso afirmar que em maior grau, o Google deve ser responsabilizado por tudo que mostraremos. Eles incentivam toda Internet a prática danosa. Tanto para eles quanto para todos os usuários espalhados pelo Brasil e pelo mundo.

Embora citemos veículos de imprensa aqui, acreditamos que eles servem apenas para trazer um debate necessário a nossa sociedade.

Portais de Conteúdo

Estado de Minas

Estamos falando do maior veículo de imprensa de Minas Gerais.

Agora, veremos alguns dos conteúdos que tem sido veiculados nos últimos dias:

Fim das férias de 30 dias?

Ao ver o conteúdo, ele nem parece ser de um veículo tão respeitado:

Formatação estranha. Quantidade excessiva de anúncios.

Se você achou estranho, guarde bem o tipo de conteúdo que virá abaixo. Alguém sempre emite um aviso para um determinado tipo de pessoa.

Receita Federal emite aviso para quem realiza PIX?

Outros tipos comuns de publicações estão relacionadas a possíveis mudanças trabalhistas.

Adeus 1h de almoço?

Por fim, nesta primeira parte, a Receita Federal emitiu (?) mais um alerta.

Mais uma vez a Receita Federal emite alerta.

Esse é o tipo de conteúdo que o Estado de Minas tem entregado todos os dias no Discover.

Mas não é só ele.

Portal UAI

Ainda em Minas Gerais, outro portal bem conhecido também tem práticas parecidas. O Portal UAI.

Observe que aqui a dinâmica é a mesma da imagem apresentada acima. Sobre fim de férias de 30 dias, com imagem muito parecida e com anúncio sobre a imagem.

Mais um conteúdo versando sobre fim de férias de 30 dias

Aqui, neste “alerta global”, quase nem conseguimos ver o título <h1>, uma vez que o anúncio toma quase metade da tela.

Alerta global?

Nesta recente publicação, conseguimos ver todo o drama. Atente-se para “Escala de trabalho 4×3 foi aprovada para alegria de trabalhadores do mundo todo”

Poderíamos citar uma quantidade muito grande de postagens do tipo. Mas, é melhor viajarmos para Brasília.

Correio Braziliense

Agora, falamos de um dos principais veículos de Brasília. Você se lembra dos comunicados importantes? Pois é. Eles voltaram.

Comunicado importante para todos os segurados?

Além disso, houve um grande aumento em conteúdos sobre “cidades brasileiras”.

Sobrou até para a Microsoft:

Microsoft emite alerta

Para a Apple também

Pouparei vocês de mais conteúdos e prints. Acredito que vocês já estejam convencidos sobre a qualidade duvidosa desses artigos.

Podemos prosseguir.

As pessoas mais atentas deve achar curioso três portais distintos terem tópicos tão próximos, não é mesmo?

Não é coincidência!

Diário Associados

Como a página do Diário Associados na Wikipedia nos mostra, os três sites pertencem ao mesmo grupo:

A partir de agora, conseguimos avançar em mais relações entre os sites.

Lembra das postagens sobre direito trabalhista que eram muito parecidas? Elas, de fato, são.

Apenas no Estado de Minas, apareceram mais de 16 postagens. Todas idênticas.

No Correio Braziliense? A mesma coisa

Agora, você deve estar se perguntando, “só falta ter a mesma coisa no Portal Uai!”…

Uai, sô, tem também. Mesmo que em menor número.

Podemos chamar isso de Spam?

Minha principal dúvida, aqui, é se podemos chamar isso de spam. E olha que mostramos apenas um dos tópicos analisados.

Para que você tenha ainda mais elementos, abordaremos ainda mais semelhanças entre os três sites.

Em nenhum dos casos, o conteúdo é veiculado com as demais reportagens, realizadas por profissionais sérios e gabaritados que os 3 veículos têm de sobra.

No Caso do Estado de Minas, o subdiretório utilizado é o E.M Foco. No Correio Brasiliense é o C.B Radar. Por fim, no Portal Uai é o Uai Notícias.

Eles não comungam com o portal oficial em praticamente nada.

Digamos que você queira entrar em contato com a “equipe”do E.M Foco. Dificilmente você conseguirá.

Footer E.M. Foco

Falar em equipe é difícil, uma vez que os conteúdos não têm nenhuma menção ao jornalista ou redator.

“Redação E.M Foco
Fim da Noticia

Por isso, mais uma vez, não é possível colocar na conta dos editores as atuais quedas de Discover, uma vez que os próprios domínios vencedores não cumprem com as diretrizes.

Inclusive, esqueceram de tirar o “Sample Page” do Footer. Diferentemente do caso da ISTOÉ, temos dificuldade em saber se o conteúdo é gerenciado por uma equipe parceira.

No caso do Correio Braziliense, o footer infinito não permite que tenhamos informações detalhadas do sites.

Por fim, ainda há uma semelhança. Os códigos de monetização, via Google, das empresas são os mesmos. Embora possam ser consultados livremente, optamos por esconder os finais.

Observe que os sites oficiais possuem um código, enquanto as versões otimizadas para Discover têm outro.

Cod. editor Google
Correio Brazilienseca-pub-00769731XXXXX
Estado de Minasca-pub-00769731XXXXX
Portal Uaica-pub-00769731XXXXX
C.B Radar“ca-pub-2769181994XXXXX”
E.M Foco“ca-pub-2769181994XXXXX”
Uai Noticias“ca-pub-2769181994XXXXX”

Apenas em tráfego estimado para Pesquisa, os três sites podem chegar aos 3 milhões de visitas mensais. Aparentemente, o projeto começou com E.M. Foco e depois foi para C.B Radar e Uai Noticias, respectivamente.

Provavelmente, trata-se de estratégia para minimizar impactos de possíveis punições, isolando o código de editor apenas às partes desejadas.

E.M. Foco – Tráfego Estimado – SEMRush
C.B Radar. Foco – Tráfego Estimado – SEMRush
Uai Noticias – Tráfego Estimado – SEMRush

Eles não estão sozinhos

Espantou-me descobrir os três sites pelo tamanho que representam e, principalmente, pela representativamente que têm em cada estado.

Mas o caso está longe de ser isolado.

Agora, apresentamos mais um exemplo. O Diário Lance! tem usado /outros-lances/ para falar de conteúdo geral.

Lance Falando de Fone de Ouvido?
Lance falando sobre cidade paulista?

Mesmo que em fase inicial, o projeto tem conseguido escalar:

Tráfego Estimado – Outros Lances!

O abuso da autoridade de domínio: uma tática em ascensão

A prática observada nos exemplos do Estado de MinasCorreio BraziliensePortal UAI e, mais recentemente, no Lance!, talvez possa ser enquadrada no que a comunidade SEO tem discutido como “abuso de autoridade de domínio” ou, em alguns contextos, “Parasite SEO”.

Trata-se de uma estratégia onde grandes portais, detentores de alta autoridade aos olhos do Google, utilizam essa força para impulsionar conteúdos que, isoladamente ou em domínios de menor expressão, dificilmente alcançariam posições de destaque.

Ao criar subdiretórios específicos como ‘E.M Foco’, ‘C.B Radar’ ou ‘/outros-lances/’, esses veículos essencialmente ‘alugam’ a reputação do domínio principal para publicar artigos de qualidade duvidosa, muitas vezes repetitivos, com foco exclusivo em monetização via Discover ou pesquisa orgânica, e frequentemente descolados do rigor editorial aplicado ao restante do site.

O fato de esses conteúdos não serem veiculados com as demais reportagens e utilizarem estruturas e até códigos de monetização distintos reforça essa percepção de uma operação paralela.

Essa tática não é nova nem exclusiva do Brasil. Um exemplo internacional frequentemente citado é o da Forbes, que por anos teve seções de ‘contribuidores’ ou conteúdo patrocinado que conseguiam ranquear para termos altamente competitivos, aproveitando-se da imensa autoridade do domínio forbes.com – uma prática que o Google tem tentado coibir com atualizações mais recentes.

O Google, ao historicamente valorizar fortemente a autoridade do domínio como um todo, acaba por, inadvertidamente ou não, permitir que esse tipo de conteúdo menos qualificado ganhe visibilidade indevida, apenas por estar hospedado sob o ‘guarda-chuva’ de um nome forte.

Os casos citados, com a mesma estrutura e até mesmo códigos de monetização compartilhados entre os subdiretórios ‘paralelos’, são um reflexo claro dessa exploração da autoridade consolidada para fins que fogem ao escopo do jornalismo de qualidade que se espera dessas marcas, aproveitando uma brecha que o próprio Google, ao menos até recentemente, parecia tolerar ou não conseguir filtrar eficientemente.

As práticas recomendadas pelo Google estão sendo cumpridas? Chegue você mesmo a uma conclusão:

Políticas do Google Notícias

Google: o principal culpado

É inegável que o Google, com as recentes e obscuras mudanças no Discover, figura como o principal incentivador de uma corrida por visualizações que, muitas vezes, sacrifica a qualidade e a veracidade da informação.

Ao concentrar o tráfego em conteúdos de apelo rápido e duvidoso, como os exemplos citados do Estado de MinasPortal UAI e Correio Braziliense, o buscador efetivamente recompensa práticas que beiram o clickbait e a desinformação. Os portais, mesmo os grandes e tradicionais, parecem se ver encurralados: ou se adaptam a essa lógica predatória para garantir uma fatia da monetização proveniente desse tráfego massivo, ou arriscam perder relevância e receita.

Em certa medida, é possível entender as decisões desses veículos; diante de um sistema que parece premiar esse tipo de abordagem – e considerando que desobedecer regras do Google não é um ato ilícito, mas um risco calculado –, a busca pela sobrevivência financeira e pela manutenção de audiência pode levar à adoção dessas estratégias, mesmo que comprometam a integridade editorial que se esperaria de suas marcas consolidadas.

A criação de subdiretórios como “E.M Foco” ou “C.B Radar”, com códigos de monetização distintos, evidencia uma tentativa de isolar essa prática do jornalismo “oficial”, mas não exime o Google de sua responsabilidade em fomentar esse ecossistema.

Diferentemente do que pensa um engenheiro do Google, a Big Tech deveria se esforçar mais par monetizar de forma justa quem entrega conteúdo para que o buscador possa processar tais informações.

O Google tem feito pouco. Muito pouco.

Não consegue cortar pela raiz os infratores e não ajuda os veículos independentes e com qualidade a escalar.

O esforço público do Google

O discurso apresentado por Fabiana Zanni, líder de Parcerias de Notícias do Google no Brasil, traça um panorama de apoio multifacetado ao jornalismo, com foco em inovação, sustentabilidade e combate à desinformação.

O texto detalha uma série de iniciativas sob a égide da Google News Initiative (GNI), como o apoio a veículos locais, o mapeamento de “desertos de notícias” através do Atlas da Notícia, programas de aceleração como o Startups Lab, e a oferta de ferramentas como Ad Manager, Reader Revenue Manager, Pinpoint e NotebookLM. Além disso, destaca parcerias com entidades como Projor, Abraji (Comprova), Aos Fatos e Lupa para promover indicadores de confiança, checagem de fatos e desenvolvimento de tecnologias de combate à desinformação, especialmente em contextos eleitorais.

Projetos como a Sala Digital de Google Trends na Band e a implementação de IA na CNN Brasil são citados como exemplos de sucesso na modernização das redações e aproximação com a audiência. O compromisso, segundo o Google, é continuar a investir no ecossistema de notícias brasileiro em 2025, visando o crescimento e a prosperidade do jornalismo de qualidade.

No entanto, essa narrativa, embora repleta de ações aparentemente benéficas, precisa ser contextualizada e analisada criticamente. Primeiramente, é crucial lembrar que o Google, como uma das maiores plataformas de distribuição de conteúdo e um ator dominante no mercado de publicidade digital, possui uma relação intrinsecamente complexa e, por vezes, predatória com a indústria de notícias. Enquanto a empresa investe em iniciativas pontuais de apoio, seu modelo de negócios principal historicamente contribuiu para a desestabilização financeira de muitos veículos jornalísticos, ao concentrar a maior parte da receita publicitária online e ao se beneficiar da veiculação de conteúdo jornalístico sem uma compensação proporcional direta por anos.

Os programas de apoio, como os citados, podem ser vistos como uma tentativa de mitigar esses impactos negativos e de melhorar a imagem pública da empresa perante um setor vital para a democracia. Contudo, a escala desses investimentos, quando comparada ao lucro gerado pela plataforma através do conteúdo jornalístico, muitas vezes parece modesta. A ênfase em “ferramentas” e “treinamentos” também pode ser interpretada como uma forma de integrar ainda mais os veículos ao ecossistema Google, aumentando a dependência de suas tecnologias e plataformas, o que nem sempre se traduz em autonomia ou sustentabilidade genuína a longo prazo.

Além disso, o discurso sobre “combate à desinformação” soa paradoxal quando consideramos que as próprias plataformas do Google (incluindo YouTube e a Busca, especialmente com a ascensão de funcionalidades como o Discover e, potencialmente, as AI Overviews) podem ser vetores significativos de desinformação e conteúdo de baixa qualidade, como discutido anteriormente em relação ao incentivo à criação de conteúdo ruim em troca de visualizações. A responsabilidade da plataforma em filtrar e não recompensar esse tipo de conteúdo parece, por vezes, secundária em relação à promoção de “soluções” externas ou parcerias.

O que será do nosso jornalismo?

A prevalência desse tipo de conteúdo, otimizado para algoritmos e não para o leitor crítico, lança uma sombra preocupante sobre o futuro do jornalismo. Torna-se cada vez mais árduo encontrar reportagens que se pautem pelos princípios mais caros à profissão: apuração rigorosa, apresentação ética dos fatos, responsabilidade social e o compromisso com a verdade.

Quando vemos veículos com “profissionais sérios e gabaritados” relegando o jornalismo de qualidade a segundo plano em detrimento de “alertas” genéricos e repetitivos sobre “fim de férias” ou “avisos da Receita Federal”, percebemos uma erosão da confiança e do propósito jornalístico.

O futuro, que já se desenhava complexo, parece ainda mais tenebroso com a ascensão da Inteligência Artificial generativa. Se a busca por cliques já leva à produção massiva de conteúdo superficial por humanos, a IA tem o potencial de escalar essa produção a níveis inimagináveis, tornando ainda mais difícil para o cidadão discernir informação de qualidade de mero ruído ou manipulação.

A questão que paira é se ainda haverá espaço e viabilidade para um jornalismo que resista à tentação do tráfego fácil e se mantenha fiel à sua missão fundamental.

Se há divergências minhas ao que pensa o engenheiro do Google, em algo nós concordamos: o futuro do jornalismo é nebuloso. Embora não tenha uma resposta, ele diz que talvez o jornalismo precise ser sustentado por ONGs. Esse será o caminho?

Willian Porto
Willian Portohttps://naoeagencia.com.br
Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de SEO, tendo participado de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone, além de Portais de Noticia, como Folha Dirigida e Central da Toca. É fundador do "Não é Agência!"

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