O silêncio da gigante sobre cliques levanta suspeitas em meio à queda de tráfego orgânico
Durante a conferência de resultados do primeiro trimestre de 2025, o Google destacou o crescimento dos AI Overviews, afirmando que já alcançam mais de 1,5 bilhão de usuários mensais. Mas um detalhe chamou a atenção (ou melhor, a ausência dele): a empresa evitou responder perguntas sobre taxas de cliques (CTR) e conversões.
O que foi (não) dito
Um analista da JPMorgan questionou diretamente os executivos sobre como devemos interpretar os 1,5 bilhão de usuários do AI Overviews, e o que isso significa em termos de CTR e conversão. Philipp Schindler, Chief Business Officer da Alphabet, respondeu:
“Não acho que este seja o momento para entrar nos detalhes sobre taxas de cliques e conversão.”
Em outras palavras, não quiseram responder — e isso levanta dúvidas legítimas sobre o impacto real dessa funcionalidade.
Por que isso importa?
Para quem trabalha com SEO, essa omissão soa como um alerta. Diversos portais e sites de conteúdo já relataram queda no tráfego desde o lançamento do AI Overviews, em maio de 2024 — especialmente em buscas comerciais e informativas.
Embora o Google repita que os Overviews geram “maior satisfação e uso da busca”, os dados públicos indicam o oposto:
- Menos cliques nos resultados orgânicos;
- Menor visibilidade para conteúdos informativos;
- Mais dificuldade em medir retorno de estratégias de conteúdo.
A crítica que surge entre especialistas é que o Google parece cada vez mais interessado em manter o usuário dentro do seu ecossistema, oferecendo respostas completas e monetizáveis sem a necessidade de clicar em nenhum link. Isso transforma o motor de busca em um jardim murado, onde só os conteúdos filtrados e curados pela IA aparecem.
CTR importa — e muito
A ausência de transparência do Google em relação ao CTR dos AI Overviews preocupa, porque indica que a empresa não tem valorizado devidamente os cliques (ou a falta deles) que os editores de conteúdo têm recebido, comprometendo o reconhecimento do papel fundamental desses sites no ecossistema de busca.
A decisão de esconder esses dados ou de tratá-los com evasividade mostra uma falta de compromisso com os criadores de conteúdo que, durante anos, ajudaram a tornar o Google o que ele é hoje: uma plataforma baseada em conteúdo de terceiros. Ao invés de analisar com dados concretos como poderia apoiar os editores a manterem seu tráfego, o Google opta por uma decisão unilateral focada em sua competição com o ChatGPT e, principalmente, em consolidar um modelo de busca cada vez mais centralizador, no qual o conteúdo externo é usado apenas para alimentar suas próprias respostas.
AI Overviews: recurso ou obstáculo?
O Google tenta posicionar os AI Overviews como um recurso inovador de busca. Porém, como destacou o jornalista Danny Goodwin, não se trata de um produto com usuários — trata-se de uma funcionalidade forçada, da qual o usuário comum tem dificuldade em sair.
Além disso, há dúvidas sobre como esse recurso impacta diferentes tipos de buscas:
- Consultas comerciais: o volume aumentou, segundo o Google, mas sem evidências claras de impacto real para quem investe em SEO;
- Consultas multimodais: estão crescendo com recursos como Lens e Circle to Search, mas a IA está no centro — não o conteúdo das páginas.
A crítica mais contundente aqui é sobre como o Google está usando métricas internas e interpretações vagas para sustentar decisões que claramente afetam negativamente um ecossistema inteiro — sem oferecer contrapartidas, dados ou alternativas viáveis.
O que os SEOs e portais devem fazer?
Com o cenário atual, a recomendação é clara:
- Acompanhe de perto o impacto dos AI Overviews nas suas páginas mais acessadas;
- Reforce o posicionamento do seu site como fonte confiável e com autoridade;
- Invista em relações públicas digitais para aumentar menções e backlinks orgânicos;
- Explore alternativas de tráfego, como YouTube, newsletters e redes sociais;
- Pressione por transparência de dados e CTR nos painéis do Search Console e Google Analytics.
Conclusão
A recusa do Google em abordar publicamente os efeitos de seus AI Overviews sobre o CTR deve ser interpretada como um sinal de que algo está, sim, sendo escondido. E para quem depende do tráfego orgânico, ignorar isso é correr riscos desnecessários.
Em vez de promover uma internet mais acessível e aberta, o Google parece caminhar para um modelo cada vez mais fechado e controlado, priorizando suas próprias soluções e monetização — mesmo que isso venha à custa da sustentabilidade dos sites que alimentam seu mecanismo de busca.