Matthew Prince, cofundador e CEO da Cloudflare – uma empresa com capitalização de mercado de US$ 42 bilhões, fundamental para a infraestrutura da internet – participou recentemente da Palestra Anual Bernard L. Schwartz no Council on Foreign Relations.
Em uma conversa abrangente com David Rubenstein, Prince compartilhou insights valiosos sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) no modelo de negócios da web e como isso se relaciona com o vasto ecossistema de rastreamento do Google, um tema crucial dado o volume de tráfego que o Google ainda direciona.
A Cloudflare, em sua essência, “torna a internet mais rápida e a protege de agentes maliciosos”. Com uma rede global presente em mais de 350 cidades e interconectada com aproximadamente 60.000 outras redes, a empresa está em uma posição privilegiada para observar as transformações digitais.
A IA e a mudança no modelo de negócios da web: o rastreamento do Google em perspectiva
Prince destacou que a Inteligência Artificial está prestes a mudar fundamentalmente o modelo de negócios da web, que por muitos anos foi impulsionado pela busca. Ele traçou um paralelo interessante sobre a relação entre o rastreamento do Google e o tráfego enviado aos criadores de conteúdo:
- Há 10 anos: Para cada duas páginas de um site que o Google rastreava (“scrape”), ele enviava, em média, um visitante. Essa era a “troca” implícita que sustentava a criação de conteúdo.
- Hoje: A taxa de rastreamento do Google permaneceu relativamente constante. No entanto, agora são necessárias seis páginas rastreadas para gerar um visitante.
“O que mudou?”, questiona Prince. “A resposta é que hoje, 75% das consultas feitas ao Google são respondidas sem que você precise sair da página do Google.” Informações que antes levariam a um clique para um site (como uma página da Wikipedia) agora são exibidas diretamente na SERP (página de resultados).
A consequência direta disso é um declínio acentuado no valor percebido pelos criadores de conteúdo original, seja através de assinaturas, publicidade ou mesmo o reconhecimento de ter seu material lido. O tráfego, que é a força vital de muitos modelos de negócios online, diminuiu drasticamente.

O desafio exponencial com as novas IAs
Se a relação com o Google já se tornou menos favorável para os criadores, o cenário com as novas ferramentas de IA generativa é ainda mais alarmante, segundo Prince:
- OpenAI (ChatGPT): A proporção estimada é de 250 páginas rastreadas para cada visitante enviado.
- Anthropic: A proporção sobe para impressionantes 6.000 páginas rastreadas para cada visitante.
“O modelo de negócios da web não pode sobreviver a menos que haja alguma mudança”, alerta Prince. “Porque, cada vez mais, as respostas às perguntas que você faz não o levarão à fonte original, será algum derivado dessa fonte. E se os criadores de conteúdo não puderem derivar valor do que estão fazendo, eles não criarão conteúdo original.”
Ele reconhece que líderes de empresas de IA, como Sam Altman da OpenAI, entendem esse dilema. No entanto, nenhuma empresa quer ser a única a pagar por conteúdo enquanto as outras o obtêm gratuitamente. A Cloudflare, que atende cerca de 80% das empresas de IA e uma parcela significativa da web (20-30%), se encontra no meio dessa transformação e está refletindo sobre como esse novo modelo de negócios precisará evoluir.
O futuro do conteúdo e a necessidade de um novo equilíbrio
Embora Prince acredite que grande parte do investimento atual em IA possa não gerar o retorno esperado (“99% do dinheiro… está sendo queimado”), ele está convicto de que o 1% restante será incrivelmente valioso. A questão central permanece: como os criadores de conteúdo original serão compensados em um mundo onde as respostas são cada vez mais sintetizadas e entregues diretamente por IAs, muitas vezes sem a necessidade de um clique para a fonte?
A vasta operação de rastreamento do Google ainda representa uma fonte significativa de tráfego para muitos, mas a dinâmica está mudando rapidamente. A entrevista com Matthew Prince reforça a urgência de um debate sobre a sustentabilidade do ecossistema de conteúdo na era da IA e a necessidade de encontrar novos modelos que reconheçam e recompensem a criação original, mesmo quando as respostas são mediadas por algoritmos cada vez mais sofisticados.
Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Noticia, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.