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segunda-feira, junho 2, 2025
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Inteligência Financeira e Jovem Nerd acendem alerta sobre jornalismo brasileiro; outros portais podem ir para o mesmo caminho

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Sumário

Nos últimos dias, recebemos com tristeza o fim de dois projetos de jornalismo: Inteligência Financeira (IF), pertencente ao Itaú, e o NerdBunker, projeto do Jovem Nerd, pertencente à Magalu.

O fato de estarem em áreas bem distintas mostra que precisamos interpretar a situação de maneira conjunta, já que o fenômeno não está relacionado a um setor específico.

Inteligência Financeira

O projeto foi na contramão da ideia popular que basta fazer bons conteúdos que o tráfego virá.

Histórico de tráfego estimado pela SEMRush.

O bom projeto nunca decolou, de fato. Toda a estrutura do site conseguiu em raros momentos ter mais audiência que domínios jornalísticos especializados em clickbait e fakenews.

Para piorar, nos últimos meses, o projeto entrou em uma espiral ainda mais negativa, o que, provavelmente, contribuiu para a finalização dele.

Além disso, em abril, em nossa base de Discover com mais de 500 sites, já não era possível encontrar o IF.

Dados de Similarweb mostra que, após o dia 14 de abril, o site deixou de esboçar qualquer reação mais importante.

Tráfego do site Inteligência Financeira – Similarweb

Jovem Nerd

O caso do Jovem Nerd é distinto. Embora, possamos acreditar que o site merecia ter mais audiência do que teve nos seus últimos dias, apresentava certa estabilidade.

Tráfego Estimado – SEMRush

Ainda que o mês de abril também tenha sido difícil, não encontramos nenhuma grande queda.

Tráfego diário do Jovem Nerd – Similarweb

Mesmo assim, no estado atual do jornalismo brasileiro, mesmo pequenas quedas podem comprometer a continuidade de vários projetos.

De acordo com colaboradores ouvidos por Não é Agência, todo os processos estavam normais na empresa. Eles tinham planejamento pronto para vários meses para cobrir eventos. Ou seja, foram pegos de surpresa.

Situação é ainda pior

Ao menos quatro grandes portais de segmentos nos procuraram, informando que, caso a situação não seja revertida rapidamente, precisarão fazer duros cortes nas suas equipes.

Alguns deles temem, inclusive, pela continuidade do projeto.

Conteúdo é democracia e cultura

Muitos profissionais, equivocadamente, têm tratado o conteúdo como uma simples commodity — um bem genérico, facilmente substituível e de baixo valor estratégico. Nada poderia estar mais distante da verdade. O conteúdo é, na realidade, a base sobre a qual fundamentamos praticamente todas as nossas escolhas, das mais triviais às mais determinantes.

É ele que nos fornece a matéria-prima essencial para a reflexão, o senso crítico e a tomada de decisões informadas, sejam elas relativas à nossa vida pessoal, à nossa trajetória profissional ou às grandes questões que definem o rumo da sociedade.

Mesmo em situações corriqueiras, o conteúdo exerce um papel fundamental: é com base em análises, críticas, resenhas e opiniões que decidimos se vale a pena ir ao cinema assistir a determinado filme, investir tempo e dinheiro em um jogo, ou mesmo compreender as nuances de uma partida esportiva envolvendo o time que amamos. Sem conteúdo, ficamos à mercê do acaso ou da manipulação, privados da possibilidade de exercer escolhas conscientes e alinhadas com nossos valores e interesses.

Mais do que um insumo, o conteúdo é um elemento estruturante da cultura. É através dele que narrativas se formam, que tradições se perpetuam e que o tecido social se enriquece e se transforma. Desincentivar a produção e a valorização do conteúdo é, portanto, um ato que vai muito além de uma simples decisão de negócios: é um ataque direto à vitalidade cultural, à diversidade de perspectivas e, sobretudo, à própria democracia.

Pois sem conteúdo plural e acessível, não há espaço para o debate, para a formação de opinião ou para o exercício pleno da cidadania. Minar o conteúdo, portanto, é minar a cultura — e minar a cultura é corroer, silenciosa e implacavelmente, os alicerces da democracia.

O fim do jornalismo independente?

Projetos pertencentes a grandes empresas tendem a ser mais instáveis. Eles dependem de estratégias amplas dessas corporações, podendo ser interrompidos sem aviso prévio.

O jornalismo independente, por outro lado, nasce da vontade de fazer diferente, com seriedade, respeito e amor à profissão.

Entretanto, sustentar tais projetos é uma tarefa complicada. O tráfego tem entrado a conta-gotas enquanto o custo cresce. Ainda assim, a orientação do Google é para não fazer otimizações para cliques.

Nesse sentido, mesmo um engenheiro do Google sugere que os portais de notícia, no futuro, poderão ser organizações sem fins lucrativos.

O papel das Big Techs

Nós apoiamos Inteligência Artificial. Nós apoiamos o progresso. Mas, minar quem produz conteúdo de qualidade é minar o próprio progresso.

Pior ainda. Ter, sempre, uma inteligência(?) para resumir tudo, significa, em última análise perder as nuances das informações. Isso muda tudo.

Google repete, como um mantra, a ideia de Conteúdo Útil e feito para pessoas. Mas, vez após vez, encontramos grandes portais sendo desconsiderados pelo mecanismo de busca. Em alguns casos, sem motivo técnico para tanto.

Se o Google quiser apoiar o jornalismo, como diz apoiar, precisa começar a aprimorar o que resta de tráfego.

Parar de confiar em grandes portais que não cumprem com as diretrizes e aprender a confiar naqueles, mesmo que menores, optam por fazer jornalismo de qualidade.

O que diz o Google?

De acordo com Fabiana Zanni, Head de Parcerias de Notícias do Google, em 2024, o Google, por meio do time de Parcerias de Notícias no Brasil, consolidou sua atuação no fortalecimento do jornalismo nacional, apoiando iniciativas locais e nacionais que promovem a qualidade, a sustentabilidade e a inovação no setor.

A empresa colaborou com mais de uma centena de organizações, oferecendo produtos como Google Ad Manager e Reader Revenue Manager, além de treinamentos e parcerias estratégicas para impulsionar o desenvolvimento de veículos de todos os tamanhos, com destaque para projetos locais e regionais.

A Google News Initiative continuou a promover a sustentabilidade e diversidade do jornalismo, apoiando o mapeamento de desertos de notícias através do Atlas da Notícia e investindo em programas como o Startups Lab, que acelerou startups focadas em cobertura local e cívica. A empresa também impulsionou a adoção de inteligência artificial nas redações, como nos casos da CNN Brasil e da Sala Digital do Google Trends na Band, fortalecendo a conexão entre jornalistas e o público.

Além disso, o Google intensificou seu compromisso com o combate à desinformação, apoiando iniciativas como o Comprova, o Codesinfo, a Busca Fatos e o LupaScan, com foco especial em ferramentas para monitoramento e checagem de informações, sobretudo em períodos eleitorais. A empresa também promoveu a capacitação de jornalistas por meio de uma rede nacional de treinamentos, alcançando mais de 10 mil profissionais em mais de 240 cidades, reafirmando seu papel no apoio ao ecossistema jornalístico brasileiro.

Entretanto, claramente, o esforço é insuficiente para trazer resultados mais palpáveis para os principais portais brasileiros. Ajudar CNN e Band, por exemplo, ainda que interessante, não surte efeitos naqueles que mais precisam.

Este conteúdo é uma homenagem para

Camila Sousa,
Tayná Garcia,
Jessica Pinheiro,
Gabriel Avila e
Paloma Pinheiro.

Profissionais desligados do Jovem Nerd. E, principalmente, a todos os nerds do Brasil. Bons conteúdos não podem ser substituídos.

Estaremos nas trincheiras, defendendo, de fato, o conteúdo de qualidade.

Publisher do "Não é Agência!", Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de SEO, tendo participado de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone, além de Portais de Noticia, como Folha Dirigida e Central da Toca.

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