Quanto mais difícil se torna o mercado, maior a tendência de vermos portais se adaptarem. Enquanto os pequenos tendem a fechar suas publicações, os médios e grandes procuram novas formas para aglutinação.
No caso do Canaltech, a parceria com a CNN mostra como veículos distintos podem somar ao procurar públicos, inicialmente, distintos. Já no caso da NZN, da qual o Tecmundo faz parte, o futuro parece mostrar que teremos menos portais.
De todo modo, os movimentos alertam ainda para outra verdade, ainda maior: a tendência do mercado, governo, legisladores e judiciário em enxergar os portais locais e especializados.
Canaltech: parceria útil para todos
CNN e Canaltech anunciaram parceria no último dia 29 de setembro. A proposta diz que o portal de tecnologia, produzirá “conteúdo para o portal da CNN Brasil, o Canaltech terá participação na TV“.
De acordo com a própria CNN, “o movimento fortalece a proposta da emissora de reforçar a entrega de conteúdo segmentado em seu ecossistema de notícias que, em agosto, contou com mais de 250 milhões de pageviews e é considerado um dos maiores do país em audiência.“.
O ponto destacado pelo portal de notícias faz sentido. Diferentemente da realidade dos principais portais brasileiros, a CNN, em agosto, tem acréscimo de 15% no seu tráfego em comparação com o mesmo período do ano passado.

Esse caso mostra como a CNN está em um momento propício para fazer acordos que aumentem, justamente, a quantidade de conteúdo disponível, na expectativa que consiga, da mesma forma, novos acréscimos em tráfego.
Parceria da CNN com Omelete
Da mesma forma, com conteúdo relativamente parecido, em junho, a mesma CNN anunciou parceria com outro portal, o Omelete.
De acordo com a empresa, “além de conteúdo para o portal da CNN Brasil, o Omelete terá participação na TV“. Naquela ocasião, a CNN justificou a decisão para fortalecer “a proposta da CNN de entregar uma cobertura diversificada e aprofundada sobre diferentes temas de interesse das pessoas em um ecossistema de notícias com alcance mensal médio superior a 80 milhões de pessoas por mês“.
Movimentos distintos
Para exemplificar a situação, veja o tráfego orgânico em desktop dos últimos 2 anos dos três portais envolvidos: CNN, Omelete e Canaltech:

Se em janeiro de 2024 o Canaltech tinha, levemente, mais tráfego em comparação com a CNN (4.9MM vs 4.6MM), o cenário atual é diferente. O portal de tecnologia representa apenas 11,6% da CNN.
Omelete, no geral, tem queda superior aos 25% na comparação com agosto do ano passado. Com a perda de tráfego dos portais, a parceria mostra-se relevante para que o site não sofra cortes ou tenha a suspensão de seus serviços.
Tecmundo: como sites importantes foram se tornando irrelevantes
Em janeiro de 2024, em um movimento diferente do atual, a NZN tinha o Tecmundo com seu principal ativo. Naquele mês, comemorava mais de 7 milhões de visitantes apenas vindos do Google. Em agosto, próximo do anúncio da venda da empresa, a NZN viu seu ativo desvalorizar mais de 83%. No ano a ano, o decréscimo já é de 65%.

A NZN faz parte da história da Internet. O baixaki, por exemplo, foi um dos portais mais acessados nos anos 2000, quando o interesse em procurar por aplicativos essenciais era grande. Entretanto, neste momento, além dos demais sites terem baixa significância em tráfego, o próprio Tecmundo se via perdendo relevância, como a maioria do seu setor.
Nesse sentido, sem muita surpresa, o Estadão anunciou a compra da NZN. De acordo com o Estadão, o movimento “visa integrar não apenas marcas editoriais, mas um pacote completo de negócios digitais — o foco será na expansão da capacidade de produção de conteúdo audiovisual, na infraestrutura física e na monetização de audiência“. Vale lembrar que a NZN foi adquirida pela H.I.G. Capital em 2015.
De acordo com o Techmundo, “materiais do TecMundo passarão a aparecer nos canais do Estadão, como a página principal e as redes sociais do jornal, e vice-versa, marcando o início da integração entre as marcas“.
Movimentos distintos
Em janeiro de 2024 (uma coincidência), o Tecmundo era cerca de 68% maior que o Estadão. Entre idas e vindas, em agosto, o cenário se inverteu. Agora, o Tecmundo corresponde a 32% do tráfego orgânico do Estadão.

Os movimentos tanto de CNN quanto de Estadão confirmam o que Não é Agência vem afirmando: o cenário de tráfego para portais de notícias é desigual. Enquanto os maiores, mais conhecidos e menos segmentados têm apresentado acréscimo de tráfego ou, ao menos, baixa queda, os menores e nichados têm apresentado dificuldades para manter a operação.
Qual o futuro dos portais?
Ao adquirir parceiros, os grandes portais tendem a crescer em tráfego e, principalmente, complementar áreas em que a audiência possa julgar deficitária. Entretanto, para o público, os cenários não tendem a ser tão positivos. Por um lado, as parcerias criam novas dependências. Se antes, era com um motor de busca, agora passa a ser com a parceira maior.
Por outro lado, as parcerias e aquisições, ao menos, garantem que o projeto e as iniciativas tenham maior prazo de vida. Nesse sentido, portais de pequenas cidades podem se transformar em correspondentes locais de sites maiores, permitindo que o conteúdo continue a chegar às cidades.
Entretanto, isso demonstra o quanto mesmo a informação chega de maneira deficitária para o governo legislativo, executivo e judiciário.
A possível crise de tráfego vivenciada pelos maiores portais do Brasil pouco tem a ver com a outra, vivida pelos portais pequenos e nichados.
Para exemplificação, o relator do caso no Cade (Conselho de Administração de Defesa Econômica), Gustavo Augusto Freitas de Lima, disse que:
“A pergunta que faço é: impedir o Google de indexar notícias, de apresentar os snippets (resumos) e o link para os usuários, é benéfica à economia ou é prejudicial à economia? Ela é benéfica à informação ou vai criar um mar de fake news e de desinformação? E digo mais: se eu proibir o Google, eu tenho de proibir o WhatsApp, o Instagram, o Facebook. Ou seja, a conclusão é que ninguém pode passar um resumo ou uma manchete a não ser que o jornal autorizasse. Em que ambiente nós viveríamos? Nesse caso, a única notícia que vai circular é a fake news. Porque é fake news que ninguém vai se importar que circule”.
O caso é mais complexo do que se imagina. Inclusive, os próprios dados analisados mostram uma visão turva sobre a realidade.
Na nota técnica nº 70, pode-se observar quais foram os portais requisitados a oferecem informações:

Observe que, embora de tamanhos distintos, todos os requisitados podem ser classificados como grandes portais em sua área de atuação, sendo poucos deles, nichados.
Com isso, os pequenos portais e os especializados foram excluídos da análise praticada pelo Cade. Além de mais numerosos, tais portais sustentam o acesso e o direito à informação de parte relevante do país. Nesse sentido, o Cade (e demais entes) deve avaliar as políticas do Google com todo o setor informativo, bem como seus extratos, como os portais especializados e locais.
Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.
- Willian Portohttps://naoeagencia.com.br/author/naoeagencia/
- Willian Portohttps://naoeagencia.com.br/author/naoeagencia/
- Willian Portohttps://naoeagencia.com.br/author/naoeagencia/
- Willian Portohttps://naoeagencia.com.br/author/naoeagencia/