O futuro do jornalismo é da parceria? Canaltech e Tecmundo mostram como a desigualdade entre os portais é desconhecida

Willian Porto
10 Min Read

O jornalismo praticado por portais especializados e hiperlocais deve ser considerado tão importante quanto o realizado por grandes publicadores brasileiros

Quanto mais difícil se torna o mercado, maior a tendência de vermos portais se adaptarem. Enquanto os pequenos tendem a fechar suas publicações, os médios e grandes procuram novas formas para aglutinação.

No caso do Canaltech, a parceria com a CNN mostra como veículos distintos podem somar ao procurar públicos, inicialmente, distintos. Já no caso da NZN, da qual o Tecmundo faz parte, o futuro parece mostrar que teremos menos portais.

De todo modo, os movimentos alertam ainda para outra verdade, ainda maior: a tendência do mercado, governo, legisladores e judiciário em enxergar os portais locais e especializados.

Canaltech: parceria útil para todos

CNN e Canaltech anunciaram parceria no último dia 29 de setembro. A proposta diz que o portal de tecnologia, produzirá “conteúdo para o portal da CNN Brasil, o Canaltech terá participação na TV“.

- Assine nossa Newsletter -

De acordo com a própria CNN, “o movimento fortalece a proposta da emissora de reforçar a entrega de conteúdo segmentado em seu ecossistema de notícias que, em agosto, contou com mais de 250 milhões de pageviews e é considerado um dos maiores do país em audiência.“.

O ponto destacado pelo portal de notícias faz sentido. Diferentemente da realidade dos principais portais brasileiros, a CNN, em agosto, tem acréscimo de 15% no seu tráfego em comparação com o mesmo período do ano passado.

Dados de Semrush Traffic & Market mostra o acréscimo de tráfego orgânico de CNN. Tenha 7 dias gratuitos

Esse caso mostra como a CNN está em um momento propício para fazer acordos que aumentem, justamente, a quantidade de conteúdo disponível, na expectativa que consiga, da mesma forma, novos acréscimos em tráfego.

Parceria da CNN com Omelete

Da mesma forma, com conteúdo relativamente parecido, em junho, a mesma CNN anunciou parceria com outro portal, o Omelete.

De acordo com a empresa, “além de conteúdo para o portal da CNN Brasil, o Omelete terá participação na TV“. Naquela ocasião, a CNN justificou a decisão para fortalecer “a proposta da CNN de entregar uma cobertura diversificada e aprofundada sobre diferentes temas de interesse das pessoas em um ecossistema de notícias com alcance mensal médio superior a 80 milhões de pessoas por mês“.

- Assine nossa Newsletter -

Movimentos distintos

Para exemplificar a situação, veja o tráfego orgânico em desktop dos últimos 2 anos dos três portais envolvidos: CNN, Omelete e Canaltech:

Dados de Semrush Traffic & Market mostra o movimento distinto de CNN e demais portais Tenha 7 dias gratuitos

Se em janeiro de 2024 o Canaltech tinha, levemente, mais tráfego em comparação com a CNN (4.9MM vs 4.6MM), o cenário atual é diferente. O portal de tecnologia representa apenas 11,6% da CNN.

Omelete, no geral, tem queda superior aos 25% na comparação com agosto do ano passado. Com a perda de tráfego dos portais, a parceria mostra-se relevante para que o site não sofra cortes ou tenha a suspensão de seus serviços.

- Assine nossa Newsletter -

Tecmundo: como sites importantes foram se tornando irrelevantes

Em janeiro de 2024, em um movimento diferente do atual, a NZN tinha o Tecmundo com seu principal ativo. Naquele mês, comemorava mais de 7 milhões de visitantes apenas vindos do Google. Em agosto, próximo do anúncio da venda da empresa, a NZN viu seu ativo desvalorizar mais de 83%. No ano a ano, o decréscimo já é de 65%.

Dados de Semrush Traffic & Market mostra o acréscimo de tráfego orgânico de CNN. Tenha 7 dias gratuitos

A NZN faz parte da história da Internet. O baixaki, por exemplo, foi um dos portais mais acessados nos anos 2000, quando o interesse em procurar por aplicativos essenciais era grande. Entretanto, neste momento, além dos demais sites terem baixa significância em tráfego, o próprio Tecmundo se via perdendo relevância, como a maioria do seu setor.

Nesse sentido, sem muita surpresa, o Estadão anunciou a compra da NZN. De acordo com o Estadão, o movimento “visa integrar não apenas marcas editoriais, mas um pacote completo de negócios digitais — o foco será na expansão da capacidade de produção de conteúdo audiovisual, na infraestrutura física e na monetização de audiência“. Vale lembrar que a NZN foi adquirida pela H.I.G. Capital em 2015.

De acordo com o Techmundo, “materiais do TecMundo passarão a aparecer nos canais do Estadão, como a página principal e as redes sociais do jornal, e vice-versa, marcando o início da integração entre as marcas“.

Movimentos distintos

Em janeiro de 2024 (uma coincidência), o Tecmundo era cerca de 68% maior que o Estadão. Entre idas e vindas, em agosto, o cenário se inverteu. Agora, o Tecmundo corresponde a 32% do tráfego orgânico do Estadão.

Dados de Semrush Traffic & Market mostra a decadência de produtos da NZN. Tenha 7 dias gratuitos

Os movimentos tanto de CNN quanto de Estadão confirmam o que Não é Agência vem afirmando: o cenário de tráfego para portais de notícias é desigual. Enquanto os maiores, mais conhecidos e menos segmentados têm apresentado acréscimo de tráfego ou, ao menos, baixa queda, os menores e nichados têm apresentado dificuldades para manter a operação.

Qual o futuro dos portais?

Ao adquirir parceiros, os grandes portais tendem a crescer em tráfego e, principalmente, complementar áreas em que a audiência possa julgar deficitária. Entretanto, para o público, os cenários não tendem a ser tão positivos. Por um lado, as parcerias criam novas dependências. Se antes, era com um motor de busca, agora passa a ser com a parceira maior.

Por outro lado, as parcerias e aquisições, ao menos, garantem que o projeto e as iniciativas tenham maior prazo de vida. Nesse sentido, portais de pequenas cidades podem se transformar em correspondentes locais de sites maiores, permitindo que o conteúdo continue a chegar às cidades.

Entretanto, isso demonstra o quanto mesmo a informação chega de maneira deficitária para o governo legislativo, executivo e judiciário.

A possível crise de tráfego vivenciada pelos maiores portais do Brasil pouco tem a ver com a outra, vivida pelos portais pequenos e nichados.

Para exemplificação, o relator do caso no Cade (Conselho de Administração de Defesa Econômica), Gustavo Augusto Freitas de Lima, disse que:

“A pergunta que faço é: impedir o Google de indexar notícias, de apresentar os snippets (resumos) e o link para os usuários, é benéfica à economia ou é prejudicial à economia? Ela é benéfica à informação ou vai criar um mar de fake news e de desinformação? E digo mais: se eu proibir o Google, eu tenho de proibir o WhatsApp, o Instagram, o Facebook. Ou seja, a conclusão é que ninguém pode passar um resumo ou uma manchete a não ser que o jornal autorizasse. Em que ambiente nós viveríamos? Nesse caso, a única notícia que vai circular é a fake news. Porque é fake news que ninguém vai se importar que circule”.

O caso é mais complexo do que se imagina. Inclusive, os próprios dados analisados mostram uma visão turva sobre a realidade.

Na nota técnica nº 70, pode-se observar quais foram os portais requisitados a oferecem informações:

Nota Técnica 70 do Cade mostra o quanto os portais pequenos e especializados foram desconsiderados da análise. Tenha 7 dias gratuitos

Observe que, embora de tamanhos distintos, todos os requisitados podem ser classificados como grandes portais em sua área de atuação, sendo poucos deles, nichados.

Com isso, os pequenos portais e os especializados foram excluídos da análise praticada pelo Cade. Além de mais numerosos, tais portais sustentam o acesso e o direito à informação de parte relevante do país. Nesse sentido, o Cade (e demais entes) deve avaliar as políticas do Google com todo o setor informativo, bem como seus extratos, como os portais especializados e locais.

Publisher e Especialista em SEO | Web |  + posts

Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.

Compartilhe este artigo