Congresso da Abraji: profissionais relatam formas distintas para financiar o bom jornalismo

Willian Porto
7 Min Read

O Congresso da Abraji trouxe à tona diversas estratégias de monetização no jornalismo, com painéis que exploraram modelos de negócio inovadores e desafios enfrentados por veículos de comunicação no cenário atual. 

Durante as discussões, foram abordados temas cruciais como o valor entregue à base de leitores, a frequência de publicações, os desafios da polarização e, claro, as diversas formas de monetização que sustentam o jornalismo contemporâneo. A discussão contou com a participação de Giácomo Degani (ICL Notícias), Marina Menezes (Nexo Jornal) e Vitor Conceição (Meio), com mediação de Natalia Viana (Co-fundadora e diretora executiva da Agência Pública).

Meio: sem polarização e confiança no jornalismo aberto

Vitor Conceição, CEO do Meio, destacou a “venda de produtos editoriais” como uma estratégia que, embora tradicional, pode ressurgir como um pilar de monetização. Ele observou que, nos últimos dois anos, a base de assinantes do Meio tem se mantido estável, o que indica uma fase de “andar de lado” na aquisição.

Um ponto crucial para o Meio é a interação com o público, buscando “conversar com pessoas e ficar no meio”. Essa postura significa, na visão de Conceição, não tomar um lado no espectro político, mas sim focar em “fazer jornalismo e explicar notícias” de forma imparcial.

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Para Vitor, as diversas mídias são importantes ferramentas para alcançar as pessoas em seus “micromomentos”, incentivando-as a desenvolver o hábito de consumir jornalismo regularmente. Essa presença estratégica em diferentes plataformas visa integrar o jornalismo ao cotidiano do público.

O YouTube emerge como o principal canal de aquisição de assinantes pagos, com um foco claro em análises. Conceição ressaltou a “fronteira entre análise e opinião” como uma forma de aprofundar conteúdos, especialmente na plataforma de vídeos, oferecendo um nível de detalhe e contextualização que vai além da notícia factual.

Conceição também registrou que, para ele, o jornalismo aberto é importante, por isso o Meio não adota um paywall tradicional. Em vez disso, a estratégia é convencer as pessoas a contribuírem financeiramente para terem acesso a conteúdos adicionais, como a Edição de Sábado, além de material exclusivo para apoiadores.

Por fim, ele mostrou sua relutância em depender das Big Techs em suas soluções, dando o exemplo das newsletters em que possui os e-mails de cada pessoa que decidiu fazer parte.

ICL Notícias: sustentabilidade pela comunidade e parcerias

Giácomo Degani, Diretor de Marketing e Comunicação no ICL (Instituto Conhecimento Liberta) e ICL Notícias, apresentou um modelo de negócio distinto: “Não receber nenhum tipo de anúncio”. A monetização do ICL Notícias é inteiramente sustentada pela comunidade e pelo próprio Instituto Conhecimento Liberta.

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Com um impressionante tráfego de 5 milhões e uma equipe de 118 funcionários dedicados ao jornalismo, o ICL Notícias demonstra a viabilidade de um modelo baseado em apoio direto. Além disso, a presença forte em Canais de Instagram e o desenvolvimento de Parcerias contribuem para a visibilidade e alcance do projeto.

Giácomo acredita que o projeto ainda está em seu início. Ele entende que é possível dobrar os resultados. Além disso, a oferta de cursos e documentários é uma forma essencial de monetizar o jornalismo, pois seria difícil para o portal de notícias sozinho levar o projeto tão longe, destacando a importância da diversificação das fontes de receita.

Nexo Jornal: ás vezes, menos é mais

Marina Menezes, Diretora-geral do Nexo Jornal, compartilhou a experiência de um modelo focado em assinaturas. Uma das abordagens do Nexo tem sido a otimização da equipe, buscando diminuir o tamanho do time para garantir a sustentabilidade. Dessa maneira, procuram entender o que a organização faz de melhor, diminuindo esforços em outras iniciativas. Diferente de outros veículos, o Nexo não faz branded content, mantendo uma linha editorial clara e independente.

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A diretora-geral do Nexo também abordou a complexidade de entender personalização contra velocidade, um dilema na produção de conteúdo. Embora muitos possam considerar a média de cerca de 10 conteúdos diários como uma quantidade pequena, a organização está satisfeita em entregar bons resultados e não precisa correr loucamente atrás dos mecanismos de busca.

Como fator importante, o Nexo Jornal tem bem definido o que é e o que deseja ser. A estratégia não aposta em ser a resposta mais rápida, mas sim em ser aprofundado o suficiente para gerar valor aos seus leitores. O veículo prioriza a profundidade e a qualidade em vez de, simplesmente, a velocidade na entrega das informações. Marina destaca que seria difícil competir com a mídia tradicional na entrega desses conteúdos de forma rápida, por isso, o Nexo prefere se dedicar onde consegue entregar mais valor e diferenciação.

Não há um caminho único

O Congresso da Abraji evidenciou que não há um único caminho para a monetização do jornalismo, com cada caso acontecendo de forma distinta. No entanto, em todos os modelos, a audiência é um fator crucial. 

Alguns veículos, como o ICL Notícias, preferem lidar com a venda de cursos e documentários como forma de receita, enquanto outros, como o Nexo Jornal, focam em assinaturas e modelos de paywall mais padrões

Há ainda aqueles, como o Meio, que têm assinaturas, mas fazem muitas entregas gratuitas de conteúdo. Independentemente da abordagem, todos precisam entender profundamente seu público, criar uma conexão genuína, compreender como as pessoas estão dispostas a contribuir e, a partir daí, desenvolver produtos e serviços nesse sentido. 

Não existe uma resposta única e enlatada para a monetização no jornalismo, o que torna o processo mais desafiador, mas, ao mesmo tempo, plenamente possível.

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Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.

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