Durante o Congresso da Associação Brasileira Jornalismo Investigativo, ouvimos uma pergunta de uma pessoa durante uma das sessões que trabalhava no portal da Inteligência Financeira.
Ele, que se identificou como repórter, disse acreditar que o projeto terminou por quedas no Google. De acordo com ele ” (…) eu trabalhei na Inteligência Financeira, um portal que deixou de existir recentemente, e a gente teve uma crise causada depois das mudanças no Google. Então isso me interessa pessoalmente.”.
O objetivo, aqui, é adentrar mais na relação que as quedas do Google podem ter influenciado a finalização do projeto.
Vale lembrar que já fizemos um primeiro conteúdo relacionado ao assunto aqui.
Inteligência Financeira e o Google
Como falamos no artigo anterior, Inteligência Financeira, mesmo nos tempos mais áureos, poderia ter tido um desempenho mais satisfatório.
Ainda assim, as quedas foram constantes ao longo do tempo, confira:
Desde o final de 2023, a empresa teve dificuldade em tracionar no orgânico.
Com dados de mercado, vemos que em dezembro de 2024 o site até conseguiu ensaiar uma reação, mas, logo depois, voltou à espiral negativa, levando o site aos piores índices desde julho de 2023.
Nesse sentido, pode-se verificar que a dificuldade do portal em conseguir tracionar organicamente deve ter tido um papel preponderante para sua finalização. Por dois anos, em vez de crescer, o projeto caiu.
Relação com Discover
Como mostra o DiscoverSnoop, o Inteligência Financeira deixa de apresentar conteúdo no Discover em Janeiro. Em março, aparece apenas pontualmente. Isso, com certeza, favoreceu a uma queda de tráfego ainda mais importante par ao site.
O tráfego de Discover, muitas vezes atribuído ao canal Direto, também apresentou quedas durante o período:
Como podemos ver, diferentemente dos demais, o tráfego de Discover é encerrado em janeiro, o que provavelmente está relacionado com outros fenômenos. Ainda assim, mostra como o Google tem sido incapaz no seu interesse de mostrar conteúdo relevante e confiável no Discover.
Em vez de mostrar conteúdos de portais que são conhecidos por sua relevância e qualidade, o Google tem prefirido mostrar conteúdo criado por Inteligência Artificial, muitas vezes.
Interesses ocultos
Quando uma empresa compra ou cria um portal de jornalismo, não se sabe ao certo quais são os reais interesses primários. Via de regra, não são a entrega de notícias e conteúdos relevantes para suas audiências. No setor financeiro, por exemplo, a criação de leads tende a ser um ponto importante.
Nesse caso, quando os resultados esperados não aparecem, nem sempre há a paciência e a técnica necessária para reverter quadros complexos. Além disso, as estratégias de empresas financeiras e de e-commerce tendem a ser voláteis.
Com esse cenário, o que gerou o interesse no passado pode não fazer mais sentido no presente. E como o interesse primário não é a informação, todo processo se torna ainda mais complexo.
Papel do Google
Como discutimos aqui, o Google deve ser responsabilizado pela atual queda da qualidade do jornalismo praticado no Brasil. Quando pensamos que grandes corporações estão em dúvidas sobre a monetização do jornalismo, quanto mais os pequenos e independentes portais!
O Google precisa assumir o papel (ingenuidade?) de liderar o processo de moralização do jornalismo. Enquanto práticas ruins são recompensadas, dificilmente a boa apuração, que é mais custosa, florescerá.
Eurípedes, do Estadão, disse pensar em um “mundo pós-Google”. Nós também acreditamos que a dependência precise ser menor, entretanto, é difícil pensar que o Google perderá sua importância editorial. Discover continuará importante. As escolhas de Gemini, AI Overviews e Modo IA, igualmente.
Não nos cansaremos na nossa tarefa de pedir melhores escolhas por parte da Big Tech.
Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.
