Google treina IA com vídeos do YouTube; criadores não podem impedir

Willian Porto
6 Min Read

O Google confirmou que está utilizando sua gigantesca biblioteca de vídeos do YouTube para treinar seus mais avançados modelos de inteligência artificial, como o Gemini e o gerador de vídeo e áudio Veo.

A revelação de CNBC, que surpreendeu muitos criadores e especialistas em propriedade intelectual, acende um debate crucial sobre transparência, consentimento e o futuro da criação de conteúdo na era da IA generativa, incluindo Gemini e Veo 3.

A questão central não é apenas o uso dos dados, mas a aparente falta de uma opção clara para os criadores impedirem que o Google utilize seus próprios vídeos para treinar os modelos da casa.

Embora o YouTube ofereça uma ferramenta que permite aos usuários optar por não ter seu conteúdo usado no treinamento de IAs de empresas terceiras — como Apple, Amazon e Nvidia —, essa escolha não se estende aos próprios produtos do Google.

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A falta de transparência e o dilema dos criadores

Apesar de o Google afirmar que essa prática já havia sido mencionada em postagens de blog e está coberta pelos termos de serviço da plataforma, muitos dos principais criadores de conteúdo e profissionais de propriedade intelectual não tinham conhecimento de que seus trabalhos estavam alimentando diretamente o desenvolvimento de ferramentas como o Veo.

Essa falta de clareza cria um dilema significativo: os criadores estão, sem saber, ajudando a treinar sistemas que podem, no futuro, competir diretamente com eles.

Uma ferramenta como o Veo é capaz de gerar vídeos de alta qualidade a partir de simples comandos de texto. O perigo, apontado por especialistas, é que essa tecnologia possa criar “versões sintéticas” ou “fac-símiles” do trabalho original de um criador, sem crédito, consentimento ou compensação.

Um exemplo notável foi a análise de um vídeo gerado pelo Veo que apresentou uma semelhança de 71% com o trabalho do criador Brodie Moss, com o áudio chegando a mais de 90% de correspondência, segundo uma ferramenta de análise da empresa Vermillio.

No final, o humano é o grande propulsor da IA

Treinando o próprio concorrente

A principal preocupação dos editores e criadores é que o treinamento massivo com seus vídeos possa ser usado “contra” eles. A IA, uma vez treinada, pode ser utilizada para:

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  • Gerar conteúdo similar: criar vídeos no mesmo estilo, com temas parecidos, diluindo a audiência e o valor do criador original.
  • Resumir vídeos: ferramentas de IA poderiam, em tese, criar resumos ou versões mais curtas de vídeos longos, privando o criador de visualizações e, consequentemente, da receita publicitária associada. Um usuário poderia obter a informação principal de um tutorial de 20 minutos através de um resumo de 1 minuto gerado por IA, sem nunca clicar no vídeo original.
  • Substituir a criação humana: a longo prazo, se a tecnologia se tornar suficientemente avançada e acessível, poderá diminuir a demanda por criadores humanos em certas áreas, desvalorizando o trabalho criativo.

O que dizem os termos de serviço?

Legalmente, o Google está amparado por seus próprios termos de serviço. Ao fazer o upload de um vídeo, o usuário concede ao YouTube uma “licença mundial, não exclusiva, isenta de royalties, sublicenciável e transferível para usar esse Conteúdo”. Essa linguagem ampla dá à empresa a base legal para utilizar os vídeos para fins de desenvolvimento interno, incluindo o treinamento de IA.

No entanto, a legalidade da prática não elimina as questões éticas. Críticos argumentam que um consentimento enterrado em longos termos de serviço não equivale a um consentimento informado e transparente, especialmente quando o uso dos dados pode impactar diretamente o sustento dos criadores que formam a base da plataforma.

Reações e o futuro

A situação gera reações mistas. Alguns criadores veem a IA como uma “competição amigável” e uma evolução inevitável do mercado. O Google, por sua vez, tenta mitigar os riscos oferecendo uma cláusula de indenização, prometendo assumir os custos legais caso um usuário de suas ferramentas de IA enfrente um processo por violação de direitos autorais.

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Contudo, a questão fundamental permanece. A indústria criativa já está em alerta, como demonstra o processo movido pela Disney e Universal contra a geradora de imagens Midjourney por suposta infração de direitos autorais.

Para os criadores do YouTube, a revelação de que não podem impedir o Google de usar seus vídeos para treinar suas próprias IAs destaca um desequilíbrio de poder. A prática reforça a necessidade de um debate mais amplo e de regulamentações mais claras sobre o uso de dados para treinamento de IA, garantindo que os direitos e o trabalho dos criadores sejam protegidos na nova economia digital.

Publisher e Especialista em SEO | Web |  + posts

Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.

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