Quanto os portais de notícias empurram sua audiência para IAs com experiência deficiente?

Willian Porto
7 Min Read

A preocupação com linguagem e exatidão é mais dos profissionais do que dos leitores

No Digital News Report 2025, vimos que 9% das pessoas afirmam se informar por Chatbots de IA. Para além de toda crítica a ausência de monetização, precisamos pensar em quanto os próprios Publishers têm empurrado as pessoas para se informarem por IA.

A experiência de uso dos chatbots, principalmente a Perplexity, é considerada satisfatória, enquanto que os portais nem sempre é o que acontece.

Visita só após anúncio

Veja como um portal como CNN lida com a experiência do usuário no site:

No site da CNN, só é possível acessar plenamente o site após um tipo de offerwall.

Pagar não significa ter uma boa experiência

Digamos que você, como eu, tenha algumas assinaturas. Isso, entretanto, não garante uma boa experiência de leitura.

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Veja o caso de O Globo. Mesmo tendo assinatura, parte relevante da notícia ainda é ocupada por publicidade. Embora o modelo misto de assinatura e publicidade tenha sentido no jornal impresso, na nova economia da informação as pessoas pagam por um ambiente limpo de publicidade.

Aqui, não é o caso.

Em assinaturas tradicionais, as pessoas continuam vendo anúncios consideráveis, mesmo depois de pagar.

Obrigação em fazer parte de newsletter

Há algum tempo, citamos o caso de Hubspot, que estava fazendo um teste em que a pessoa poderia acessar os conteúdos apenas depois de se inscrever em Newsletter.

O caso de Intercept é parecido. Embora permita que a pessoa acesse algumas notícias, bloqueia depois. Nesse caso, apenas o cadastro é suficiente para ler sem limites.

Depois de poucos conteúdos, somos obrigados a assinar uma newsletter

Embora o cadastro seja gratuito e Intercept não tenha anúncios, a prática contradiz o real valor das Newsletters: uma base altamente engajada e interessada no conteúdo do portal.

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Quando obrigados as pessoas a se cadastrarem, algumas deixarão de se conectar com os conteúdos antes mesmo de ter o interesse na Newsletter, enquanto outras se cadastrarão, mas nunca abrirão um e-mail.

Não é Agência incentiva o cadastro, mas não bloqueia nenhum conteúdo. Acreditamos que as pessoas devem ter a opção de não receber nada em seu e-mail.

Mar de anúncios

Por fim, há os portais em que é difícil distinguir a notícia dos anúncios. Embora eles não cobrem nem exigem uma atitude por parte do leitor, entretanto, com a experiência tão ruim, a tendência é desistir de acessar o site ou usar IA para ajudar na tarefa.

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Estado de Minas apresenta alto teor de publicidade nos conteúdos

Aqui também:

Metrópoles apresenta boa parte da tela coberta por anúncios

Desafios

Se, por um lado, a experiência dos portais é visivelmente ruim, mesmo quando as pessoas pagam para acessar o conteúdo, por outro, resolver o problema é um grande desafio.

Como temos falado, um dos principais desafios do futuro do jornalismo é saber como monetizar sua audiência. Em um cenário em que as pessoas estão menos interessadas em assinaturas, mas exaustas de publicidade, torna-se complexo pensar em maneiras menos intrusivas, mas efetivas de monetizar o portal.

Nesse caso, temos visto menos iniciativas inovadoras e mais replicações de movimentos que, claramente, estão ajudando a exaurir o próprio jornalismo.

Quanto mais tentamos forçar a monetização via má experiência ao usuário, mais os afastamos dos nossos portais. Se é difícil ter uma leitura fluída dentro dos sites, tentarão fazer com as IAs. Neste momento, elas não têm anúncios e possibilitam que usuários as utilizem gratuitamente.

Embora complexo, o futuro passará também por proporcionar experiências de uso relevantes e conectadas com as formas atuais de consumo.

Experiência de IA

Observe na imagem abaixo como as IAs auxiliam a uma experiência satisfatória de consumo de notícias. Um dos melhores resultados obtidos é com Perplexity. Confira:

Experiência de consumo de notícias na Perplexity

Não há clickbait. Não há informação escondida no título, nem anúncios. Informações nuas e cruas. Se tiver interesse, posso pedir para que ela se aprofunde em algum tópico.

Facilmente, podemos aprofundar os resultados de notícias na Perplexity

Embora também complexo, o caso da disputa entre Uber x Táxi deveria nos ensinar várias coisas. Para os taxistas, a disputa começa a ficar perdida quando parte relevante da população utiliza e gosta dos serviços disponibilizados. Nesse momento, qualquer ameaça a interrupção do serviço gera perda de capital político para quem avaliza sanções, punições e taxações ao serviço.

E, normalmente, a tecnolgia adora áreas difíceis e degradadas. O consumo de notícias é uma delas. Visivelmente, utilizar sites de notícias não é algo prazeroso na maior parte das vezes. Mas, por enquanto, uma parte diminuta da população utiliza chats de IA para tal fim.

Esse é o momento ideal para que os portais revejam sua estratégia. Isso não significa abolir anúncios, retirar pedidos de newsletters ou assinaturas. Mas precisamos encontrar pontos em que a experiência seja menos comprometida.

Temos uma espiral cada vez mais negativa. Portais têm menor audiência, causada, entre outros fatores, pelo rompimento do acordo tácito entre editores e Google. Isso faz com que a receita perdida seja compensada piorando a experiência do usuário. Como resultado, menos pessoas têm interesse em clicar em resultados orgânicos. O que leva a mais iniciativas de IA.

Continuaremos a tratar deste assunto, mostrando como portais em outras partes do mundo encontraram soluções criativas.

Publisher e Especialista em SEO | Web |  + posts

Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.

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