Apresentado como uma “solução abrangente para análise financeira”, Claude promete transformar a forma como profissionais de finanças analisam mercados, conduzem pesquisas e tomam decisões de investimento.
A integração de dados de diversas fontes, o acesso em tempo real a informações financeiras e as parcerias com gigantes do setor financeiro e de consultoria são, sem dúvida, tem deixado boas impressões.
Nesse sentido, qual será o papel do jornalismo?
Este é apenas o primeiro passo rumo a uma descrição precisa dos mais variados documentos, dispensando a necessidade de conteúdos para apenas relatar a existência destes. Ou seja, os Publishers precisarão ir além para coberturas mais complexas, críticas e precisas sobre o que cada documento significa, na prática, para quem está lendo.
Uma nova era de análise de documentos?
A solução de análise financeira da Anthropic, impulsionada por Claude, destaca-se por sua capacidade de unificar dados financeiros de diversas plataformas, desde feeds de mercado até dados internos em Databricks e Snowflake.
A promessa de hiperlinks diretos para materiais de origem para verificação instantânea é um passo significativo em direção à transparência e à redução de erros. As capacidades financeiras de Claude 4, com sua performance superior em benchmarks e a aprovação em tarefas complexas do Excel, reforçam o potencial de automatizar e otimizar processos que antes exigiam horas de trabalho manual.
Isso significa que:
- pessoas não precisam mais de conteúdos que sirvam apenas para listar resultados, de forma acrítica, elas mesmas poderão fazer isso;
- jornalistas precisam partir dos resultados como ponto de partida, não de chegada.
Além da superfície
Isso significa que, para o jornalismo fazer o trabalho que dele é esperado, e se manter competitivo, será necessário se aprofundar cada vez mais nos números, que podem, inclusive, ter sido sumariados por IA.
Por exemplo: um determinado crescimento apontado é sustentável? Qual a mensagem que eles querem levar aos acionistas? O que dizem os analistas? Focar nas perguntas que não estão nos números será cada vez mais importante, em vez de dizer apenas que determinada ação subiu 30% no último ano.
Pedro Burgos, no LinkedIn, resumiu bem a situação:
E isso é um problema. O trabalho editorial sem diferenciação — que “cozinha” release, dado bruto ou post nas redes sociais — pode não ser glamouroso, mas rende page views, receita de publicidade e empregos para coleguinhas. Claude começou pelo mercado financeiro (natural: é onde está o dinheiro), mas nada impede que a tendência se expanda a outros setores.
Fazer algo único e exclusivo, tornando o veículo (ou newsletter, ou canal no YouTube) um destino, é um caminho para a sustentabilidade jornalística.
A importância do Jornalismo Investigativo e analítico
A simples repetição dos benefícios e funcionalidades anunciadas por empresas de tecnologia de ponta é um desserviço ao público. O papel dos publishers é ir além, questionando, investigando e analisando criticamente as implicações de tais inovações. Isso envolve:
- Entrevistar especialistas independentes: Buscar a opinião de acadêmicos, reguladores, analistas de mercado independentes e até mesmo profissionais de segurança cibernética para obter uma visão equilibrada.
- Analisar estudos de caso com ceticismo construtivo: Os “resultados comprovados” de Bridgewater, NBIM, Commonwealth Bank of Australia e AIG são valiosos, mas devem ser contextualizados e, se possível, comparados com outras implementações de IA no setor.
- Explorar o “lado B”: Quais são as dores de cabeça não esperadas na implementação? Houve falhas, mesmo que menores, e como elas foram superadas?
- Considerar o impacto a longo prazo: Como essa tecnologia pode moldar o futuro do mercado financeiro e da economia como um todo?
Ao adotar essa postura crítica e investigativa, os publishers não apenas fornecem um conteúdo mais rico e valioso, mas também cumprem seu papel fundamental de informar e educar o público sobre as complexidades e nuances da revolução da IA no setor financeiro.
O conteúdo que engaja ou o conteúdo que treina?
Além disso, pode-se dizer que o conteúdo que engaja audiência a uma marca é diferenciado. Pense que a notícia genérica é criada por uma diversidade de portais e pode, rapidamente, ser resumida por qualquer IA.
Entretanto, num mar de opções, pessoas continuam selecionando fontes que desejam seguir em longo prazo. Quando se tem interesse em determinado assunto, dúvidas, perguntas e interações são constantes.
Nesse sentido, mais do que ter cliques, essas empresas se preocupam em como conseguem reter a atenção do público em médio prazo.
É exatamente isso que gera inscrições em newsletters, canais de vídeo ou mídias sociais. Num mundo cada vez mais dependente do Google, a ordem do dia é justamente trabalhar para que ele não seja necessário. Como disse o Diretor de Jornalismo do Estadão, ter alternativas em um “mundo pós-Google“.
Por outro lado, como Burgos também sinaliza, é possível apenas fornecer as informações para IA:
Outro — ainda desconfortável para muita gente — é o modelo de “journalism as a service”. No anúncio da Anthropic está implícito que os parceiros que fornecem dados são remunerados. Acredito que acordos assim serão possíveis, talvez necessários, em breve.
Se as pessoas consumirem notícias diretamente nos assistentes de IA, negociar remuneração quando a IA “ler” uma matéria pode ser mais sustentável do que simplesmente bloquear os sites para esses modelos.
Embora essa possibilidade seja palpável, principalmente para publishers segmentados e maiores, hoje, não é um caminho previsto ver IAs monetizando de forma suficiente os pequenos e médios portais.
Novamente, não há respostas únicas.
Não voltaremos a um período sem IAs. Ao contrário, continuarão evoluindo e deixando marcas para trás.
Se você deseja ter um período minimamente mais tranquilo, precisará encontrar o que ela terá mais dificuldade em fazer e… fazer! Fazer bem.
Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.
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