Google I/O 2025: com profissionais preocupados, IA domina o futuro da busca e redefine regras para notícias e e-commerce

Willian Porto
10 Min Read

O Google I/O deste ano deixou claro: a Inteligência Artificial, capitaneada pelo modelo Gemini 2.5, não é mais apenas uma ferramenta, mas o novo núcleo da experiência de busca do Google. As novidades apresentadas no “AI Mode” prometem transformar radicalmente como interagimos com a informação, com implicações profundas para publicadores de notícias, e-commerces e a web como um todo.

AI Mode: a busca reimaginada com Gemini 2.5

O Google apresentou o “AI Mode” como uma evolução da busca tradicional. No seu cerne está o Gemini 2.5, prometendo um raciocínio mais avançado, capacidades multimodais (processando diferentes tipos de informação) e a habilidade de aprofundar tópicos através de perguntas de acompanhamento e links úteis para a web.

As principais novidades anunciadas para o AI Mode incluem:

Contexto pessoal: a busca que te conhece (e preocupa)

Previsto para o verão (no hemisfério norte), o AI Mode no Labs poderá oferecer sugestões personalizadas baseadas no seu histórico de buscas passadas. Mais significativamente, os usuários poderão optar por conectar outros aplicativos do Google, começando pelo Gmail. O exemplo dado é que, se você costuma buscar e reservar restaurantes com áreas externas, a IA aprenderá sua preferência. Embora o Google afirme que isso estará “sob seu controle”, com opções para conectar ou desconectar a qualquer momento, a novidade já levanta sobrancelhas.

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A comunidade questiona o futuro de ferramentas como o Google Search Console (GSC) diante dessa personalização. Greg Bernhardt expressou essa preocupação em um tweet: “O GSC está morto devido ao contexto pessoal?”, refletindo a incerteza sobre como o rastreamento e a otimização de sites funcionarão em um ambiente tão individualizado.

https://twitter.com/i/status/1924886585222250963

Fará sentido trabalhar com resultados para palavras-chave específicas quando cada pessoa vê resultados diferentes? As ferramentas de SEO ainda serão úteis? Perguntas que precisaremos responder.

Deep Search: relatórios de especialista em minutos

Para quem precisa de pesquisa aprofundada, o Google está introduzindo o “Deep Search” no AI Mode Labs. A promessa é que ele possa realizar centenas de buscas em nome do usuário, analisar as informações dispersas e criar um “relatório de nível especialista, totalmente citado” em questão de minutos.

https://twitter.com/i/status/1924887067873476688

Análise complexa e visualização de dados

Para auxiliar na interpretação de números e dados, o AI Mode poderá analisar conjuntos de dados complexos e criar gráficos e tabelas personalizadas. Essa funcionalidade chegará no verão para consultas financeiras e esportivas.

https://twitter.com/i/status/1924887442869404030

Capacidades de agente: a busca que faz por você (Project Mariner)

O Google está integrando as capacidades de agente do “Project Mariner” ao AI Mode no Labs. Isso permitirá que a busca ajude com tarefas como reservar passagens, restaurantes e agendar compromissos locais.
Essa funcionalidade é vista por alguns como o advento de um “motor de conclusão de tarefas”. A implicação direta, segundo analistas, é que “o marketing de afiliados morrerá rapidamente assim que o Google / ChatGPT começarem a receber comissões sobre produtos vendidos / negócios fechados.”

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Search Live: interação em tempo real com o mundo (Project Astra)

Também para o verão, algumas capacidades do “Project Astra” serão levadas ao Search Labs através do “Search Live”. Usando a câmera do seu dispositivo, a busca poderá “ver o que você vê” e fornecer informações úteis em tempo real, em uma conversa contínua.

https://twitter.com/Google/status/1924888110350860593

Compras: da inspiração à decisão

Em breve, uma nova experiência de compra no AI Mode ajudará os usuários desde a inspiração até a compra final. Isso incluirá uma “colagem personalizada de imagens e produtos”, detalhes e prompts para ajudar a fazer perguntas de acompanhamento e tomar decisões.

https://twitter.com/i/status/1924889035425636616

Críticas e preocupações: o outro lado da inovação

Apesar do tom otimista do Google, as novidades geraram um debate acalorado e diversas preocupações na comunidade online.

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Gagan Ghotra, observador atento, notou uma omissão significativa. Em um tweet, ele destacou que Elizabeth Reid, Chefe de Busca do Google, “não disse nada sobre sites e a web em geral” durante sua apresentação, focando intensamente nas capacidades internas da IA do Google. Isso alimenta temores de que a web aberta e os criadores de conteúdo estejam sendo deixados de lado na nova visão da empresa.

Isso é uma observação relevante. Mostra que estamos cada mais preocupados com a tecnologia e esquecendo quem treinou e ajudou com que o resultado fosse possível.

Não mostrar preocupação com o estado da Web atual, nem mesmo citá-la, mina o trabalho de centenas de milhões de pessoas em todo a Terra, bem como a forma com que interagimos com tudo quanto há no mundo.

Em outra observação, Ghotra apontou o que considerou uma tática “sorrateira” por parte do Google: “Notei também que no #GoogleIO2025, para os exemplos de consultas e respostas, as capturas de tela nos slides estão pela metade… Tática sorrateira para não mostrar toda a consulta/resposta. O Google sabia que as pessoas tentariam verificar a informação e criticá-la se estivesse errada, o que imagino que possa estar.”

Essas preocupações se somam a um sentimento mais amplo de que o tráfego orgânico “está em queda livre, pois o Google rouba o que quer sem permissão e até mesmo contra seus desejos expressos.” A qualidade geral dos sistemas também é questionada, com a percepção de que os Modelos de Linguagem Grandes (LLMs) “alucinam demais”.

Queda na Bolsa

Por mais impactante que tenha sido a apresentação, as ações da Alphabet atuaram em queda após os anúncios.

É possível que os investidores tenham dúvidas sobre como a empresa monetizará todos os projetos.

Ações da Alphabet operaram em baixa durante e após o evento

Impactos e o caminho adiante

As transformações anunciadas pelo Google têm potencial para redesenhar drasticamente o cenário para diversos atores da web:

  • Para Notícias: A capacidade do “Deep Search” de gerar “relatórios de nível especialista” e a ênfase em respostas diretas via IA podem reduzir ainda mais o tráfego para sites de notícias. Se o Google pode fornecer um resumo abrangente, qual o incentivo para o usuário clicar e ler a fonte original? Os veículos precisarão focar ainda mais em conteúdo exclusivo, investigativo e análises que a IA não consiga replicar facilmente.
  • Para E-commerces: A nova “experiência de compra” e as “capacidades de agente” (Project Mariner) que podem facilitar reservas e compras diretamente na interface de busca posicionam o Google não mais como um canal de tráfego, mas como um concorrente direto. O modelo de marketing de afiliados, como mencionado, corre sério risco.
  • Para Criadores de Conteúdo e SEOs: A personalização extrema e a opacidade de como o “AI Mode” seleciona e apresenta informações tornam a otimização para motores de busca (SEO) um desafio ainda maior. Se o Google não fala mais sobre “sites e a web”, a relevância do conteúdo tradicional pode diminuir.

A mensagem que ecoa entre os críticos e analistas é clara: “Sua única escolha agora é inovar e crescer além dos sistemas que agora te rejeitam.” Isso sugere a necessidade de construir marcas fortes, comunidades engajadas e diversificar as fontes de tráfego, reduzindo a dependência do Google.

Um novo mundo

O Google I/O 2025 (ou a edição focada nessas novidades) marca uma inflexão clara em direção a uma busca dominada pela IA, com foco na conclusão de tarefas e personalização profunda.

As promessas de eficiência e conveniência são inegáveis, mas vêm acompanhadas de sérias preocupações sobre o futuro da web aberta, a sustentabilidade dos criadores de conteúdo e a transparência dos sistemas que moldarão nosso acesso à informação e ao comércio.

A indústria precisará se adaptar rapidamente a essa nova realidade, buscando caminhos para agregar valor em um ecossistema cada vez mais controlado pelo gigante das buscas.

Por mais tentador que seja querer prever o futuro, devemos nos preparar para ele com as ferramentas que temos. Um dia de cada vez.

Publisher e Especialista em SEO | Web |  + posts

Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.

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