Muito se fala sobre o “novo SEO” e a suposta urgência em adaptar estratégias ao tráfego vindo de modelos de linguagem como o ChatGPT. Há quem diga que o momento é agora — que não se preparar para isso seria como ignorar o futuro.
Mas eu discordo — e em dois pontos principais: não é tão importante, nem tão possível se preocupar com isso neste momento.
Vamos entender por quê.
ChatGPT? Ainda irrelevante para o tráfego
Embora o ChatGPT tenha se tornado um fenômeno cultural e tecnológico, sua relevância no tráfego web ainda é ínfima. O Google tem 373 vezes mais pesquisas do que o ChatGPT. Isso significa que, proporcionalmente, o impacto do ChatGPT como canal de aquisição de tráfego é estatisticamente desprezível.


Imagine que alguém lhe oferece uma oportunidade de aumentar seu tráfego em 0,3%. Você largaria tudo o que faz para perseguir isso? Provavelmente, não.
É claro que conquistar tráfego no Google talvez não seja tão fácil como antes. Mas, ainda assim, ele segue sendo a forma mais eficiente de escalar visitas qualificadas. E mais do que isso: trata-se de uma plataforma madura, com ecossistema estável, métodos bem documentados e previsibilidade técnica.
IA generativa ainda é um produto inacabado
Há ainda outro ponto central: os modelos generativos não estão prontos. E talvez não estejam por um bom tempo.
Estamos entrando em uma era em que LLMs como GPT ou Gemini serão altamente personalizados, adaptando respostas com base nas preferências, histórico de navegação e comportamentos de cada usuário. Isso cria um ambiente em que o controle editorial — a otimização — se torna muito mais complexo.
Imagine passar meses estudando como ser citado por um LLM, e então o modelo muda completamente a forma de construir suas respostas. Isso é plausível. Aliás, já está acontecendo. A volatilidade dos LLMs é radicalmente maior que qualquer mudança observada nas SERPs do Google — que são fruto de 25 anos de maturação e evolução incremental.
Além disso, a personalização tornará a otimização quase inútil: se cada pessoa vê uma resposta diferente, com base em um universo particular de preferências e padrões, o conteúdo mais “otimizado” pode ser ignorado com base em nuances comportamentais invisíveis para quem o produziu.
Por fim, o valor de uma citação em uma LLM ainda é incerto. O quanto isso se traduz em uma vantagem competitiva? O quanto isso se traduz em negócios? Muitas perguntas, poucas respostas.

O que não muda é o que mais importa
Gosto muito de uma citação do Jeff Bezos que se encaixa perfeitamente aqui:
“As pessoas sempre me perguntam o que vai mudar nos próximos 10 anos. Mas quase nunca me perguntam o que não vai mudar. E essa é a pergunta mais importante. Porque você pode construir um negócio em cima do que é estável no tempo.”
O mesmo vale para SEO. Em vez de correr para adivinhar o futuro, o melhor a fazer agora é investir no que sabemos que continuará funcionando, mesmo quando a tempestade tecnológica passar.
O SEO que continua funcionando — e sempre funcionará
O cenário muda, mas os fundamentos sólidos do SEO permanecem:
- Um código limpo e acessível, que facilite o trabalho dos robôs e a experiência do usuário
- Conteúdo de qualidade, produzido por especialistas e voltado para demandas reais
- Uma abordagem mais profunda do que ampla — menos conteúdo raso, mais autoridade por tópico
- Uma arquitetura de site clara, que guie o usuário (e o Google) pelo caminho certo
- Um trabalho contínuo de reputação e relações públicas, para construir presença e confiança
- Incentivos para que as pessoas falem espontaneamente sobre sua marca
Tudo isso funciona hoje — e continuará funcionando nos próximos 10 anos. O que precisa ser feito já está na sua frente. E, principalmente, está ao seu alcance.
Antes de buscar os 0,3%, explore os 99,7%
Antes de tentar “hackear” 0,3% do tráfego de IA, por que não dominar os 99,7% que ainda vêm das buscas tradicionais? Ainda há muito a ser feito, e muitas oportunidades sendo desperdiçadas por falta de foco, estrutura e profissionalização. Poucas empresas têm áreas maduras de produção e distribuição de conteúdo.
Estamos, sim, diante de uma grande transformação. Mas a pior decisão possível é tentar adivinhar para onde o vento vai soprar e sair correndo atrás do furacão. Às vezes, o melhor é fortalecer os alicerces, estocar mantimentos e se preparar para continuar relevante quando a poeira baixar.
Correr atrás do furacão pode render boas imagens — mas e depois disso, o que sobra?
Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Noticia, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.