O Google I/O deste ano deixou claro: a Inteligência Artificial, capitaneada pelo modelo Gemini 2.5, não é mais apenas uma ferramenta, mas o novo núcleo da experiência de busca do Google. As novidades apresentadas no “AI Mode” prometem transformar radicalmente como interagimos com a informação, com implicações profundas para publicadores de notícias, e-commerces e a web como um todo.
AI Mode: a busca reimaginada com Gemini 2.5
O Google apresentou o “AI Mode” como uma evolução da busca tradicional. No seu cerne está o Gemini 2.5, prometendo um raciocínio mais avançado, capacidades multimodais (processando diferentes tipos de informação) e a habilidade de aprofundar tópicos através de perguntas de acompanhamento e links úteis para a web.
As principais novidades anunciadas para o AI Mode incluem:
Contexto pessoal: a busca que te conhece (e preocupa)
Previsto para o verão (no hemisfério norte), o AI Mode no Labs poderá oferecer sugestões personalizadas baseadas no seu histórico de buscas passadas. Mais significativamente, os usuários poderão optar por conectar outros aplicativos do Google, começando pelo Gmail. O exemplo dado é que, se você costuma buscar e reservar restaurantes com áreas externas, a IA aprenderá sua preferência. Embora o Google afirme que isso estará “sob seu controle”, com opções para conectar ou desconectar a qualquer momento, a novidade já levanta sobrancelhas.
A comunidade questiona o futuro de ferramentas como o Google Search Console (GSC) diante dessa personalização. Greg Bernhardt expressou essa preocupação em um tweet: “O GSC está morto devido ao contexto pessoal?”, refletindo a incerteza sobre como o rastreamento e a otimização de sites funcionarão em um ambiente tão individualizado.
Fará sentido trabalhar com resultados para palavras-chave específicas quando cada pessoa vê resultados diferentes? As ferramentas de SEO ainda serão úteis? Perguntas que precisaremos responder.
Deep Search: relatórios de especialista em minutos
Para quem precisa de pesquisa aprofundada, o Google está introduzindo o “Deep Search” no AI Mode Labs. A promessa é que ele possa realizar centenas de buscas em nome do usuário, analisar as informações dispersas e criar um “relatório de nível especialista, totalmente citado” em questão de minutos.
Análise complexa e visualização de dados
Para auxiliar na interpretação de números e dados, o AI Mode poderá analisar conjuntos de dados complexos e criar gráficos e tabelas personalizadas. Essa funcionalidade chegará no verão para consultas financeiras e esportivas.
Capacidades de agente: a busca que faz por você (Project Mariner)
O Google está integrando as capacidades de agente do “Project Mariner” ao AI Mode no Labs. Isso permitirá que a busca ajude com tarefas como reservar passagens, restaurantes e agendar compromissos locais.
Essa funcionalidade é vista por alguns como o advento de um “motor de conclusão de tarefas”. A implicação direta, segundo analistas, é que “o marketing de afiliados morrerá rapidamente assim que o Google / ChatGPT começarem a receber comissões sobre produtos vendidos / negócios fechados.”
Search Live: interação em tempo real com o mundo (Project Astra)
Também para o verão, algumas capacidades do “Project Astra” serão levadas ao Search Labs através do “Search Live”. Usando a câmera do seu dispositivo, a busca poderá “ver o que você vê” e fornecer informações úteis em tempo real, em uma conversa contínua.
Compras: da inspiração à decisão
Em breve, uma nova experiência de compra no AI Mode ajudará os usuários desde a inspiração até a compra final. Isso incluirá uma “colagem personalizada de imagens e produtos”, detalhes e prompts para ajudar a fazer perguntas de acompanhamento e tomar decisões.
Críticas e preocupações: o outro lado da inovação
Apesar do tom otimista do Google, as novidades geraram um debate acalorado e diversas preocupações na comunidade online.
Gagan Ghotra, observador atento, notou uma omissão significativa. Em um tweet, ele destacou que Elizabeth Reid, Chefe de Busca do Google, “não disse nada sobre sites e a web em geral” durante sua apresentação, focando intensamente nas capacidades internas da IA do Google. Isso alimenta temores de que a web aberta e os criadores de conteúdo estejam sendo deixados de lado na nova visão da empresa.
Isso é uma observação relevante. Mostra que estamos cada mais preocupados com a tecnologia e esquecendo quem treinou e ajudou com que o resultado fosse possível.
Não mostrar preocupação com o estado da Web atual, nem mesmo citá-la, mina o trabalho de centenas de milhões de pessoas em todo a Terra, bem como a forma com que interagimos com tudo quanto há no mundo.
Em outra observação, Ghotra apontou o que considerou uma tática “sorrateira” por parte do Google: “Notei também que no #GoogleIO2025, para os exemplos de consultas e respostas, as capturas de tela nos slides estão pela metade… Tática sorrateira para não mostrar toda a consulta/resposta. O Google sabia que as pessoas tentariam verificar a informação e criticá-la se estivesse errada, o que imagino que possa estar.”
Essas preocupações se somam a um sentimento mais amplo de que o tráfego orgânico “está em queda livre, pois o Google rouba o que quer sem permissão e até mesmo contra seus desejos expressos.” A qualidade geral dos sistemas também é questionada, com a percepção de que os Modelos de Linguagem Grandes (LLMs) “alucinam demais”.
Queda na Bolsa
Por mais impactante que tenha sido a apresentação, as ações da Alphabet atuaram em queda após os anúncios.
É possível que os investidores tenham dúvidas sobre como a empresa monetizará todos os projetos.

Impactos e o caminho adiante
As transformações anunciadas pelo Google têm potencial para redesenhar drasticamente o cenário para diversos atores da web:
- Para Notícias: A capacidade do “Deep Search” de gerar “relatórios de nível especialista” e a ênfase em respostas diretas via IA podem reduzir ainda mais o tráfego para sites de notícias. Se o Google pode fornecer um resumo abrangente, qual o incentivo para o usuário clicar e ler a fonte original? Os veículos precisarão focar ainda mais em conteúdo exclusivo, investigativo e análises que a IA não consiga replicar facilmente.
- Para E-commerces: A nova “experiência de compra” e as “capacidades de agente” (Project Mariner) que podem facilitar reservas e compras diretamente na interface de busca posicionam o Google não mais como um canal de tráfego, mas como um concorrente direto. O modelo de marketing de afiliados, como mencionado, corre sério risco.
- Para Criadores de Conteúdo e SEOs: A personalização extrema e a opacidade de como o “AI Mode” seleciona e apresenta informações tornam a otimização para motores de busca (SEO) um desafio ainda maior. Se o Google não fala mais sobre “sites e a web”, a relevância do conteúdo tradicional pode diminuir.
A mensagem que ecoa entre os críticos e analistas é clara: “Sua única escolha agora é inovar e crescer além dos sistemas que agora te rejeitam.” Isso sugere a necessidade de construir marcas fortes, comunidades engajadas e diversificar as fontes de tráfego, reduzindo a dependência do Google.
Um novo mundo
O Google I/O 2025 (ou a edição focada nessas novidades) marca uma inflexão clara em direção a uma busca dominada pela IA, com foco na conclusão de tarefas e personalização profunda.
As promessas de eficiência e conveniência são inegáveis, mas vêm acompanhadas de sérias preocupações sobre o futuro da web aberta, a sustentabilidade dos criadores de conteúdo e a transparência dos sistemas que moldarão nosso acesso à informação e ao comércio.
A indústria precisará se adaptar rapidamente a essa nova realidade, buscando caminhos para agregar valor em um ecossistema cada vez mais controlado pelo gigante das buscas.
Por mais tentador que seja querer prever o futuro, devemos nos preparar para ele com as ferramentas que temos. Um dia de cada vez.
Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Noticia, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.