Como o Google pode interferir nos resultados da empresa, inclusive das listadas em bolsa

Willian Porto
9 Min Read

Aqui, temos falado de forma exaustiva como os pequenos portais são frequentemente marginalizados pelo Google. Entretanto, mesmo grandes sites sofrem frequentemente com as oscilações de humor do buscador.

Em 11 de agosto de 2025, a Monday (NASDAQ: MNDY) apresentou o que deveria ser uma história de sucesso incontestável: uma receita trimestral que superou as expectativas do mercado em U$$6 milhões. No entanto, em vez de celebração, o que se seguiu na teleconferência com analistas foi um interrogatório focado não nos sucessos passados, mas em uma fraqueza futura. O culpado, nomeado pela própria empresa, foi o Google.

O evento transformou-se em um estudo de caso ao vivo sobre como uma única entidade externa pode deter um poder desproporcional sobre o destino de uma empresa listada, expondo um risco que muitas vezes é subestimado por investidores: a dependência do algoritmo de busca.

O início da incerteza: “Uma suavidade no mercado”

O tom da chamada mudou quando a liderança da monday.com tentou explicar por que a sua projeção de crescimento para o ano inteiro foi elevada em apenas $3 milhões, apesar de uma performance muito superior no trimestre. Eliran Glazer, CFO da empresa, foi direto ao ponto: “Estamos vendo alguma suavidade no mercado de menor porte devido às mudanças no algoritmo do Google.”

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Ainda que tenha rapidamente acrescentado que “isto é temporário, acreditamos”, a semente da incerteza foi plantada. Analistas experientes de Wall Street não deixaram passar. Brent Thill, da Jefferies, resumiu o ceticismo do mercado de forma contundente: “Vocês estão culpando o Google. Estou apenas tentando juntar as peças sobre qual é o impacto na projeção futura, porque é muito menor do que vocês costumam apresentar.”

A questão de Thill foi o cerne do problema. Não se tratava apenas de uma pequena flutuação, mas de uma mudança fundamental na confiança da empresa em seu próprio funil de aquisição de clientes. A Monday, uma gigante de gestão operacional de trabalho (WorkOS), estava admitindo que uma força externa e imprevisível estava impactando seu motor de crescimento.

“É mais volume do que qualidade”

A liderança da Monday esforçou-se para enquadrar o problema como gerenciável. Roy Mann, Co-CEO, argumentou que o impacto era limitado e qualitativo: “A queda que vemos é apenas no volume, porque eles [Google] estão experimentando com IA no topo. […] Não é tão significativo para os clientes de maior qualidade. Portanto, é mais volume do que qualidade.”

Essa distinção é crucial. Para a empresa, a mensagem era: estamos perdendo leads menos qualificados, não nossos clientes ideais.

No entanto, para os analistas, a perda de volume no topo do funil, independentemente da qualidade, significa uma desaceleração no crescimento de novas contas, especialmente no segmento SMB (pequenas e médias empresas), que historicamente depende mais da busca orgânica.

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“Não controlamos como o Google vai agir”

A verdadeira dimensão do risco foi revelada quando a discussão se aprofundou. Pressionado sobre a conservadorismo nas projeções, Eran Zinman, o outro Co-CEO, fez a admissão mais reveladora da chamada:

“Olha, tentamos ser o mais transparentes possível sobre os impactos que vemos do mecanismo de busca. Só não é tão material agora. Mas é o começo de uma tendência, então […] queremos ser um pouco mais conservadores sobre isso, eu não controlo… nós não controlamos exatamente como o Google vai desenrolar isso.”

Esta citação é o epicentro do problema. Um executivo de uma empresa de tecnologia de ponta, listada na NASDAQ, admitindo abertamente a falta de controle sobre um fator chave para seu crescimento. Foi a verbalização do risco que os investidores mais temem: a imprevisibilidade.

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Raimo Lenschow, analista do Barclays, conectou os pontos, perguntando se a projeção mais baixa era, na verdade, uma “margem de segurança do lado da busca do Google”. A resposta implícita era um sonoro “sim”. A empresa estava se protegendo de um futuro que não podia prever, um futuro nas mãos do Google.

Se defendendo com a diversificação

Apesar do desafio, a chamada também revelou a estratégia de defesa da Monday. A empresa não está parada. A resposta está na diversificação de produtos e de canais. Ao falar sobre o sucesso de seu novo produto de “Service”, Roy Mann destacou um ponto vital: “E o que também é empolgante é que não é o mesmo go-to-market. Não é o Google, se preferir. É de clientes existentes e temos um go-to-market diferente.”

Essa frase mostra o caminho a seguir: construir fluxos de receita que não dependam da porta de entrada do Google. A venda cruzada para clientes existentes e o desenvolvimento de uma marca forte que gere demanda direta são os antídotos para essa dependência tóxica.

O discurso não convenceu

Aparentemente, os investidores não ficaram convencidos com as explicações da empresa. As ações da Monday ainda operam em grande queda. No momento, 30% antes da divulgação dos resultados.

Resultados da Monday após divulgação dos resultados – Fonte: Google

O banco Citi, por exemplo, viu as projeções futuras como muito conservadoras. A Goldman Sachs reviu a meta da empresa, uma vez que para eles, em uma empresa em crescimento, uma inflexão negativa no canal, uma baixa de leads e de impulso de novos produtos podem ter impactos desproporcionais no potencial de crescimento de curto e longo prazo.

Monday em números

Em relação aos números, não vemos uma grande queda em tráfego nas ferramentas de mercado. Veja os resultados apontados pela Semrush:

Resultados gerais da Monday – Fonte: SEmrush Market & Traffic

Entretanto, quando vamos ver os resultados de blog, mais próximos da aquisição de novos usuários, vemos que o cenário é um pouco diferente:

Resultados de Blog da Monday – Fonte: SEmrush Market & Traffic

O mês de junho foi o pior registrado, nos últimos dois anos. Felizmente, para a empresa, a última atualização do Google parece ter colocado os resultados em posições melhores. Hoje, os resultados são 40% do alcançado em setembro de 2023.

Os conteúdos da empresa têm uma série de botões e banners para tentar levar as pessoas do blog para outros locais ou mesmo criar uma conta:

Página de blog da Monday.

Uma lição para toda Web

A teleconferência da monday.com serviu como um poderoso lembrete para o mercado. O “risco Google” deixou de ser uma nota de rodapé em um relatório anual para se tornar um protagonista no palco principal dos resultados trimestrais.

A discussão não foi apenas sobre algoritmos; foi sobre controle, previsibilidade e a vulnerabilidade inerente de se construir um império em terreno alugado. Para investidores, a pergunta agora é clara: quão exposta sua carteira de investimentos está ao próximo capricho do gigante das buscas? A resposta pode definir os vencedores e perdedores da próxima era digital.

Para além disso, hoje, boa parte das empresas colhe os frutos de certa leniência com a caixa-preta do Google. Em todo mundo, pouco se viu de setores pedindo mais transparência nas ações tomadas pela empresa. Isso faz com que sites fraudulentos ou de baixa qualidade ganhem notoriedade enquanto outras caiam, sem que as empresas e profissionais tenham uma explicação clara para o evento.

Talvez, agora, seja tarde para impor que o Google dê mais explicações sobre suas atualizações e planos para o futuro. Mas ainda estamos em tempo de rever ideias ligadas à IA e outras fontes de tráfego.

Sabe aquela ideia de que investir em orgânico é como construir a casa própria? Bem, não é bem assim…

Publisher e Especialista em SEO | Web |  + posts

Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.

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