Matthew Price, da Cloudflare, afirma que editores podem bloquear o Google: “é pequeno o suficiente para bloquea-lo”

Willian Porto
7 Min Read

Editores já dizem que o Google tem perdido sua importância como fonte de tráfego

Matthew Prince, cofundador da Cloudflare, uma das maiores empresas de segurança e entrega de conteúdo do mundo, está profundamente preocupado com o futuro da internet. Pelo menos é o que diz publicamente. Dessa vez ao Crazy Stupid.

O problema, segundo ele, é que a revolução dos chatbots de inteligência artificial, ao responderem diretamente às perguntas dos usuários, está desestabilizando o modelo de negócio que sustentou a web por décadas.

Prince, que também é editor de um jornal local, tem uma conexão pessoal com a causa. “Eu adoro o cheiro de tinta de impressora e uma grande impressora molhada”, ele explica, “então eu meio que tenho um carinho pela indústria da mídia e pela sua importância.”

A sua empresa, a Cloudflare, coletou dados que mostram a gravidade do problema. Prince revela que, há um ano e meio, “era cerca de 125 vezes mais difícil [obter tráfego de referência de um chatbot de IA em comparação com o Google]“.

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Hoje, a situação piorou drasticamente: “Agora está até 750 vezes mais difícil.” O cenário é ainda mais assustador para a Anthropic, cujo “índice de referência é ainda pior. A Anthropic hoje está 37.000 vezes mais difícil do que o Google de antigamente.”

A Proposta da Cloudflare e o confronto com o Google

Para combater essa crise, a Cloudflare lançou a iniciativa pay-per-crawl, que permite que os editores cobrem das empresas de IA pelo acesso ao seu conteúdo. A ideia é usar o poder de influência da Cloudflare, que gerencia 20% do tráfego da web, para forçar as empresas de IA a negociarem.

Prince acredita que o Google é a única empresa com o poder de resolver o problema. “Historicamente, o Google acreditou ter o direito divino de ter acesso a todo esse material“, ele afirma. No entanto, o cenário atual de 16 agências reguladoras e tribunais avaliando as práticas do Google globalmente pode forçar a gigante da tecnologia a mudar de postura. “Se o Google não o fizer voluntariamente, eles serão forçados a fazê-lo.” A referência é a integração entre a pesquisa tradicional e Modo IA e AI Overviews.

E se nada mudar? Prince conta que um editor chegou a lhe dizer: “O nível de receita que estamos obtendo do Google neste momento é pequeno o suficiente para que possamos simplesmente bloqueá-los.” A simples consideração de bloquear o Google, algo impensável há pouco tempo, mostra o quão desesperadora a situação se tornou.

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Três possíveis futuros para a Web

Prince delineia três cenários possíveis para o futuro da internet e do jornalismo, com a ascensão da IA:

  1. O cenário Niilista: Ele descreve a primeira opção como “o resultado super niilista”, no qual jornalistas e acadêmicos “vão morrer de fome e morrer porque não há mais modelo de negócio.” Os produtos de IA consumiriam o conteúdo original, e “noventa e nove por cento do mundo vai ler o derivado. Ninguém vai voltar à fonte original.
  2. A versão Black Mirror: Prince também apresenta uma segunda opção assustadora, comparada à série de televisão. Neste futuro distópico, “as cinco grandes empresas de IA vão empregar verticalmente todos os jornalistas, pesquisadores e acadêmicos em seu próprio mundo.” O conhecimento seria centralizado em silos, o que é “o oposto do que a internet fez.”
  3. A opção mais Atraente: Por fim, a terceira opção, que Prince considera a “mais atraente”, é o modelo da Netflix. “É onde aceitamos o fato de que as empresas de IA estão efetivamente em um negócio que é mais semelhante ao da Netflix,” ele explica. Neste cenário, a competição não seria mais sobre a tecnologia, mas sobre o conteúdo exclusivo, “quem tem ‘Squid Game,’ quem tem a entrevista exclusiva com a Taylor Swift.”

Em última análise, Prince está otimista de que as empresas de tecnologia perceberão que o conteúdo é a chave para o sucesso na era da IA e estarão dispostas a pagar por ele.

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Pagar, mas pagar como?

Embora Price tenha uma visão positiva sobre o futuro da Internet, nem sempre é possível ter a mesma sensação. O primeiro ponto é que nem todos editores terão uma entrevista exclusiva com Taylor Swift. Esse caso, inclusive, escancara a nossa própria realidade.

O universo Netflix tende, de forma contraintuitiva, diminuir nossas opções de cultura. Observe que desde a queda das locadoras, por mais que tenhamos mais opções de conteúdo, nós estamos vendo os mesmos títulos.

Isso significaria, aos portais de notícias e conteúdos, que se eles não massificassem os seus próprios conteúdos, teriam ainda mais dificuldade em serem prósperos.

Isso não significa, entretanto, que já não vivamos tal momento. Os resultados obtidos por Google Discover, por exemplo, já cria uma tendência natural ao espetacular e repetitivo (às vezes, mentiroso) por parte de alguns editores.

Por isso, torna-se difícil imaginar um mundo em que o jornalismo, de forma completa, possa ser patrocinado pelas IAs. Isso é um universo palpável para as grandes publicações que podem fazer grandes acordos.

Precisaremos de opções capazes de sustentar todo o ecossistema. Provavelmente, inclusive, precisaremos do plural. Várias iniciativas que, em conjunto, consigam ser eficientes o suficiente. Para os grandes e para os pequenos. Para os nacionais e para os hiperlocais. Para quem tem várias editorias e para os nichados.

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Publisher e Especialista em SEO | Web |  + posts

Publisher do "Não é Agência!" e Especialista de SEO, Willian Porto tem mais de 21 anos de experiência em projetos de aquisição orgânica. Especializado em Portais de Notícias, também participou de projetos em e-commerces, como Americanas, Shoptime, Bosch e Trocafone.

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